Percurso ida e volta (setas amarelas) entre o Bom Sucesso (Jardim Botânico) e a Lagoa Amélia.
(Imagem encontrada AQUI)
Depois de termos saído da
capital às 8h00, chegámos ao Jardim Botânico, no Bom Sucesso, cerca de 40
minutos depois.
Pouco depois, chegou o
nosso guia Francisco, com uma filosofia de vida muito própria, um amor à
floresta como poucos e grande sentido de humor. Trabalha no Jardim e tem
formação de apicultor.
Habitualmente, esta
atividade começa com uma visita ao Jardim Botânico (que vale bem a pena!), mas,
como já o tínhamos visitado em 2014, iniciámos logo o caminho para a Lagoa. A previsão eram cerca de 3h e 30 min para o percurso ida-volta, mas
acabaram por ser 4h. Foi-nos dada uma vara tipo cajado para nos apoiarmos nas
subidas e lá fomos todos equipados à maneira: botas de caminhada, roupa fresca
e confortável, mas a cobrir os braços e as pernas, e repelente em todas as superfícies
expostas.
As únicas calças que encontrei que fossem de algodão, leves e frescas foram as da imagem. Têm uma particularidade: são calças de pijama...
A Cecília optou uma calça de ganga. Gostos...
Ter os braços e as pernas protegidos é de facto importante, pois há
plantas urticantes, nomeadamente uma urtiga trepadeira com ar mimoso e inocente,
muito diferente da que conhecemos em Portugal. Uma sonsa dissimulada!
Início da caminhada com o Sr. Francisco a marcar o ritmo.
Depois de passar a zona
mais agrícola, entrámos no parque Obô (palavra do crioulo forro que significa local
abandonado, escondido).
“A reserva natural foi criada em 2006 com o objetivo de proteger a riquíssima biodiversidade existente no arquipélago. Ocupa uma vasta área de 295 km² compreendendo as duas ilhas. O parque natural “Obô” é um santuário de fauna e flora onde podem ser observadas muitas espécies raras, algumas das quais em vias de extinção. O elevado endemismo que se verifica na floresta são-tomense e a sua importância levou a que no ano de 1988 a comunidade científica internacional classificasse esta floresta como a segunda mais importante para a conservação da biodiversidade entre 75 florestas africanas. (…)caracteriza-se por ser uma floresta de altitude com precipitações permanentes, o que torna algumas das suas extensões de difícil acesso. É o local ideal para o contacto com a biodiversidade existente nas ilhas.” (http://turismoemstp.weebly.com/ecoturismo.html)
Entrada na floresta
primária equatorial (onde não se encontram espécies introduzidas como a banana,
a fruta-pão ou o mamão) com grande número de espécies, grande densidade de
vegetação, predominância de árvores, lianas, grande quantidade de espécies
parasitas e trepadeiras.
Quanto a espécies, há
répteis, entre eles, a “cobra preta”, cuja mordedura é fatal se a vítima não
for assistidas imediatamente através do antídoto adequado (no regresso,
soubemos que tinham avistado uma numa bananeira à saída do parque), aves
exóticas, insetos e macacos.
Pelo caminho, fomos
parando diante de árvores cujas características e propriedades medicinais nos
foram apresentadas com deleite e competência pelo Sr. Francisco.
A muitas destas espécies são atribuídas qualidades afrodisíacas, algo que ele contesta veementemente. Dizia ele que se “a coisa estava morta” não era um chá que ia “pô-la de pé”. No entanto, acrescentava, que, como aquelas plantas fazem bem à circulação, em casos “menos graves”, podia ajudar. “Mas um morto é um morto!”, dizia categoricamente, soltando uma pequena gargalhada.
Na sombra da floresta, árvores de grande porte crescem ao despique na procura literal de um lugar ao sol...
Figueira-estranguladora. O pau está a apontar para o tronco da árvore que foi abraçada e engolida pela figueira que lhe ocupar o lugar na floresta.
A muitas destas espécies são atribuídas qualidades afrodisíacas, algo que ele contesta veementemente. Dizia ele que se “a coisa estava morta” não era um chá que ia “pô-la de pé”. No entanto, acrescentava, que, como aquelas plantas fazem bem à circulação, em casos “menos graves”, podia ajudar. “Mas um morto é um morto!”, dizia categoricamente, soltando uma pequena gargalhada.
Num momento de pausa, para
matar a sede, fomos surpreendidos por um pequeno morcego diurno que durante uns
dois ou três minutos andou à nossa volta como que a investigar-nos.
Segundo o Sr. Francisco, seria da espécie “fanalice”, o que deve ser um lapso.
Por um lado, deve tratar-se de uma corruptela, pois a única designação parecida
que encontrei foi “fana-lixo”. Por outro lado, o “fana-lixo” é uma das três que
existiam na ilha aquando da descoberta e designa um morcego maior, frugívero,
utilizado como alimento pela população mais carenciada.
E lá chegámos à Lagoa
Amélia, que é a cratera de um vulcão, com 150 metros de diâmetro, coberta de
vegetação.
Mas as aparências iludem...
Debaixo da erva, sob uma fina camada de turfa, há um imenso lençol de água que
alimenta os rios do país.
“A Lagoa Amélia é um local
bastante invulgar e mítico, repleto de lendas, como a que retrata a origem do
seu nome “Amélia”, relacionado com uma cena trágica de amor ocorrida há muitos
anos envolvendo uma jovem portuguesa de nome Amélia que ali se despenhou.”
(http://turismoemstp.weebly.com/ecoturismo.html)
Na cratera, encontram-se impressionantes exemplares de uma das espécies endémicas de São Tomé: a begónia-gigante (a maior
do mundo), que pode atingir metros de altura.
Begónias-gigantes.
O regresso foi um pouco
mais rápido, mas ainda nos deu oportunidade de assistir à perícia do Sr.
Francisco com o seu machim (espécie de catana muito popular no país, às vezes
usada também para cortar um ou outro pescoço, sobretudo em desentendimentos
conjugais…) a extrair larvas de escaravelho gordas que só visto.
Alinhadas em
espetadas e grelhadas, são um petisco muito apreciado.
Segundo li, estas larvas
são um alimento nutritivo muito saudável. Embora disfarçando bem, a Cecília estava impressionada
(negativamente). Já eu, tendo oportunidade, provarei a iguaria. O mesmo não
digo em relação aos morcegos e aos macacos, de que o Sr. Francisco também é
apreciador. Diz ele que é por isso que ninguém lhe dá os 57 anos com que já
conta…
Quase a chegar ao final do
percurso, escorreguei numa pedra húmida e lá vai um “bate-cu”. Caí bem,
protegido pelas almofadas nadegais.
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