22/05/17

De volta a S. Tomé 3 (parte 1): subida à Lagoa Amélia de pijama!

Percurso ida e volta (setas amarelas) entre o Bom Sucesso (Jardim Botânico) e a Lagoa Amélia.
(Imagem encontrada AQUI)

Depois de termos saído da capital às 8h00, chegámos ao Jardim Botânico, no Bom Sucesso, cerca de 40 minutos depois.
Pouco depois, chegou o nosso guia Francisco, com uma filosofia de vida muito própria, um amor à floresta como poucos e grande sentido de humor. Trabalha no Jardim e tem formação de apicultor.
Habitualmente, esta atividade começa com uma visita ao Jardim Botânico (que vale bem a pena!), mas, como já o tínhamos visitado em 2014, iniciámos logo o caminho para a Lagoa. A previsão eram cerca de 3h e 30 min para o percurso ida-volta, mas acabaram por ser 4h. Foi-nos dada uma vara tipo cajado para nos apoiarmos nas subidas e lá fomos todos equipados à maneira: botas de caminhada, roupa fresca e confortável, mas a cobrir os braços e as pernas, e repelente em todas as superfícies expostas. 

As únicas calças que encontrei que fossem de algodão, leves e frescas foram as da imagem. Têm uma particularidade: são calças de pijama...
A Cecília optou uma calça de ganga. Gostos...

Ter os braços e as pernas protegidos é de facto importante, pois há plantas urticantes, nomeadamente uma urtiga trepadeira com ar mimoso e inocente, muito diferente da que conhecemos em Portugal. Uma sonsa dissimulada!

Início da caminhada com o Sr. Francisco a marcar o ritmo.

Depois de passar a zona mais agrícola, entrámos no parque Obô (palavra do crioulo forro que significa local abandonado, escondido).


A reserva natural foi criada em 2006 com o objetivo de proteger a riquíssima biodiversidade existente no arquipélago. Ocupa uma vasta área de 295 km² compreendendo as duas ilhas. O parque natural “Obô” é um santuário de fauna e flora onde podem ser observadas muitas espécies raras, algumas das quais em vias de extinção. O elevado endemismo que se verifica na floresta são-tomense e a sua importância levou a que no ano de 1988 a comunidade científica internacional classificasse esta floresta como a segunda mais importante para a conservação da biodiversidade entre 75 florestas africanas. (…)caracteriza-se por ser uma floresta de altitude com precipitações permanentes, o que torna algumas das suas extensões de difícil acesso. É o local ideal para o contacto com a biodiversidade existente nas ilhas.(http://turismoemstp.weebly.com/ecoturismo.html)

Entrada na floresta primária equatorial (onde não se encontram espécies introduzidas como a banana, a fruta-pão ou o mamão) com grande número de espécies, grande densidade de vegetação, predominância de árvores, lianas, grande quantidade de espécies parasitas e  trepadeiras.
Quanto a espécies, há répteis, entre eles, a “cobra preta”, cuja mordedura é fatal se a vítima não for assistidas imediatamente através do antídoto adequado (no regresso, soubemos que tinham avistado uma numa bananeira à saída do parque), aves exóticas, insetos e macacos.

Pelo caminho, fomos parando diante de árvores cujas características e propriedades medicinais nos foram apresentadas com deleite e competência pelo Sr. Francisco. 

Na sombra da floresta, árvores de grande porte crescem ao despique na procura literal de um lugar ao sol...

Figueira-estranguladora. O pau está a apontar para o tronco da árvore que foi abraçada e engolida pela figueira que lhe ocupar o lugar na floresta.

A muitas destas espécies são atribuídas qualidades afrodisíacas, algo que ele contesta veementemente. Dizia ele que se “a coisa estava morta” não era um chá que ia “pô-la de pé”. No entanto, acrescentava, que, como aquelas plantas fazem bem à circulação, em casos “menos graves”, podia ajudar. “Mas um morto é um morto!”, dizia categoricamente, soltando uma pequena gargalhada.
Num momento de pausa, para matar a sede, fomos surpreendidos por um pequeno morcego diurno que durante uns dois ou três minutos andou à nossa volta como que a investigar-nos. Segundo o Sr. Francisco, seria da espécie “fanalice”, o que deve ser um lapso. Por um lado, deve tratar-se de uma corruptela, pois a única designação parecida que encontrei foi “fana-lixo”. Por outro lado, o “fana-lixo” é uma das três que existiam na ilha aquando da descoberta e designa um morcego maior, frugívero, utilizado como alimento pela população mais carenciada.
E lá chegámos à Lagoa Amélia, que é a cratera de um vulcão, com 150 metros de diâmetro, coberta de vegetação.
Mas as aparências iludem... Debaixo da erva, sob uma fina camada de turfa, há um imenso lençol de água que alimenta os rios do país.
A Lagoa Amélia é um local bastante invulgar e mítico, repleto de lendas, como a que retrata a origem do seu nome “Amélia”, relacionado com uma cena trágica de amor ocorrida há muitos anos envolvendo uma jovem portuguesa de nome Amélia que ali se despenhou.(http://turismoemstp.weebly.com/ecoturismo.html)

Com uma longa vara, o Sr. Francisco mostrou-nos a profundidade da Lagoa.

Na cratera, encontram-se impressionantes exemplares de uma das espécies endémicas de São Tomé: a begónia-gigante (a maior do mundo), que pode atingir metros de altura.

Begónias-gigantes.

A Cecília e o Sr. Francisco a posarem para a fotografia.

O regresso foi um pouco mais rápido, mas ainda nos deu oportunidade de assistir à perícia do Sr. Francisco com o seu machim (espécie de catana muito popular no país, às vezes usada também para cortar um ou outro pescoço, sobretudo em desentendimentos conjugais…) a extrair larvas de escaravelho gordas que só visto. 

Alinhadas em espetadas e grelhadas, são um petisco muito apreciado. 

Segundo li, estas larvas são um alimento nutritivo muito saudável. Embora disfarçando bem, a Cecília estava impressionada (negativamente). Já eu, tendo oportunidade, provarei a iguaria. O mesmo não digo em relação aos morcegos e aos macacos, de que o Sr. Francisco também é apreciador. Diz ele que é por isso que ninguém lhe dá os 57 anos com que já conta…
Quase a chegar ao final do percurso, escorreguei numa pedra húmida e lá vai um “bate-cu”. Caí bem, protegido pelas almofadas nadegais.

Acontece...

Em breve virá a parte 2: visita às roças da Saudade e Bombaim, com banhos numa maravilhosa cascata.

Abraço.
António

Sem comentários:

Enviar um comentário