30/03/18

Guiné-Bissau: informações e dicas (IV)

Com a parte IV, conclui-se hoje a visita guiada pela Guiné-Bissau. Esperando que possa ser útil para voluntários ou simples viajantes, este guia está aberto às vossas sugestões. Abraço para todos, em especial para os amigos guineenses em Bissau e para os que, como bolseiros, estão a estudar em Portugal.

Guiné-Bissau: manual de sobrevivência
de A a Zica!

Parte I (de A a C): AQUI.
Parte II (de D a H): AQUI.
Parte III (de I a P): AQUI
Parte IV (de Q a Zica):
Q de…
QUIABO – Conhecidos pelo nome candja (termo crioulo), maiores e mais tenros dos que conhecemos cá, são muito saborosos e entram em vários pratos guineenses.


R de…
RELIGIÃO – Cerca de metade da população pratica a religião muçulmana, essencialmente da corrente sunita. Entre 10 a 15% são cristãos e grande parte da população, professando uma ou outra religião ou mesmo nenhuma, tem um grande cariz animista e pratica de forma ativa as crenças tradicionais e ancestrais africanas. Para os animistas, os espíritos são omnipresentes (vivem nas rochas, nas estátuas, nas árvores, na água, nas pessoas, nos mortos) e são eles que dão vida e protegem as coisas e podem combater as doenças, as secas, as inundações, as tragédias, mas também podem castigar e provocar o mal. É comum entre os animistas o sacrifício de animais para agradar aos espíritos, nomeadamente galinhas para se alcançar uma graça, uma boa colheita ou até para que se possa tomar uma decisão e o recurso a amuletos diversos para proteção de quem os usa.
RUBANE – A ilha (dos Bijagós) onde é proibido derramar sangue. Leia um artigo interessante AQUI

S de…
SABORES DA TABANKA – Situado na Rua Guerra Mendes, nº 18 (à esquerda, na penúltima rua antes de chegar ao porto de Bissau), este espaço de degustação e venda de produtos locais, inaugurado em outubro de 2016 e financiado pela União Europeia, merece uma visita. Entre outros produtos, destaco o mel, o óleo de palma e a excelente pasta 100% amendoim para barrar no pão ou cozinhar. Facebook AQUI.
Óleo de palma, sumo de caju, mel, amendoim...

Mancarra ralada = excelente pasta de amendoim para cozinhar ou barrar no pão!
SEGURANÇA – A cidade de Bissau é uma cidade relativamente segura onde, apesar de tudo, se devem observar os cuidados básicos. Desaconselham-se os passeios pedonais ao cair do dia ou noturnos, pois as ruas são escuras, há pouca ou nenhuma iluminação pública e é nestas alturas que se podem verificar assaltos, perpetrados por grupos de jovens. Também é pouco recomendável andar com objetos de valor e ostentar câmaras fotográficas ou telemóveis na rua, nomeadamente no Mercado do Bandim. Em Bissau, a polícia está muito ativa durante o dia, mas são essencialmente polícias da brigada de trânsito que se encontram na rua e há várias esquadras espalhadas pela cidade, devidamente assinaladas. No resto do país é muito raro verificarem-se ocorrências de assaltos, as pessoas são muito hospitaleiras e solícitas quando se cruzam com turistas. As viagens fora de Bissau deverão ocorrer durante o dia, pois as estradas e as povoações não estão iluminadas e à noite o auxílio poderá ser bastante difícil.
SUGESTÕES
Planifique bem a arrumação do que quer levar (e/ou trazer). Aproveite ao máximo a bagagem de mão, mas não se esqueça de que há produtos e objetos que só podem ir na bagagem de porão.
1. Kit-farmácia – Como o sistema de saúde é extremamente deficitário e o stock das farmácias é muito limitado, é aconselhável que se faça acompanhar de um kit de primeiros socorros que inclua antibiótico, antidiarreico, anti-histamínico, paracetamol, betadine, ligaduras e pensos, assim como os seus medicamentos habituais. Além disso, aconselha-se que leve pastilhas desinfetantes de água ou um pouco de lixívia. Ver entrada “Água”. Finalmente, mas não menos sal, um saquinho com sal. Inflamações de garganta, comichões ou alergias ao pó ou pólen podem ser prevenidas ou amenizadas com uma mezinha simples recomendada meu médico. Dissolva um colher de sopa num litro de água e: 
a) gargareje, mantendo a solução em contacto com a garganta pelo menos 30 segundos; 
b) Encha uma seringa (ver imagem) e despeje-a na das narina 1, tapando-a para que o líquido saia pela 2. Repita o processo com a narina 2. 
Desinfeta e alivia sintomas de entupimento. A descrição pode assustar, mas se eu (que sou impressionável com essas coisas) consigo fazê-lo, qualquer pessoa consegue. Simples, barato e eficaz! 
Aí está a minha companheira de viagem. Numa loja chinesa, custou menos de 1€.
2. Vestuário e acessórios – Já estive em Bissau na estação das chuvas (maio/junho, agosto/setembro e setembro/outubro) e na estação seca (janeiro).
Nas quatro vezes, optei pelo trio t-shirt-calções-sandálias e senti-me sempre confortável.
Na estação seca, faz fresco durante a noite e de manhã até por volta das 9h00, pelo que é aconselhável, para pessoas mais sensíveis, levar um casaquinho e umas calças (tecidos leves). Roupa e peúgas, sempre 100% algodão.
Na estação das chuvas, umas botas leves e impermeáveis (nunca de plástico ou borracha), são uma boa opção. Comprei as minhas na Decathlon. Embora quando caem chuvadas tropicais, não haja nada que lhes resista, um pequeno guarda-chuva mais ou menos robusto será sempre útil. Capas para a chuva são difíceis de suportar naquele calor húmido e abafado.
Seja qual for a estação, leve sempre uns bons óculos de sol, um chapéu de pano transpirável para proteger a cabeça e protetor sol.
3. Lanterna – Sendo frequentes os cortes de eletricidade, mesmo em Bissau, é importante levar na bagagem uma lanterna.
Encontrei esta  na Decathlon. É pequena, dá boa luz e não precisa de pilhas, bastando dar à manivela para a carregar.
4. Minigeleira e miniacumulador de frio – É muito mais leve do que um termo e permite lá colocar 2 a 3 garrafas de água pequenas.
5. Cabides – Além de servirem para pôr a roupa no roupeiro, são ótimos para pôr a secar a roupa que se for lavando.
6. Sabão azul e branco – Dá para lavar a roupa e também a louça.
7. Um saco com detergente em pó para lavar à mão.
8. Uma pequena extensão com três “tomadas”.
9. Molas e uma corda fina e resistente para improvisar um estendal.
10. Uma microcoluna de som para ligar ao telemóvel e ouvir rádio.
11. Um conjunto (tudo de plástico) de garfo, faca, colher, um prato resistente e um copo (dá para bebidas e fazer café) permite comer em trânsito se for necessário.

12. Sugestões a seguir/adaptar em função do tempo que vai ficar na Guiné e condições de alojamento e espaço disponível na(s) mala(s) de viagem:
»Há nos supermercados e estabelecimentos chineses caixas de plástico resistentes de diferentes dimensões e com tampa que dão para encaixar na mala de viagem e proteger coisas frágeis ou com líquidos.
»Um pequeno tacho leve e antiaderente pode servir de panela e de frigideira. Permite também ferver água.
»Um pequeno jarro elétrico será muito útil para ferver água para fazer café, chá ou pratos instantâneos como cuscuz ou noodles. E também para fazer a barba.
Ingredientes para uma refeição rápida: água a ferver sobre os noodles, esperar uns minutos e já está!
»A parte da mandolina que corta às fatias, um pequeno ralador, um descascador e uma pequena faca são ajudas preciosas para preparar saladas.
Mais uma equipa de apoio ao viajante-voluntário!
»Produtos para refeições rápidas de que pode levar um pouco de cada: arroz, massa, cuscuz, bulgur, cogumelos secos, tomate seco, um frasco de vidro de cogumelos de conserva (o frasco dará para acondicionar uma compota).
Ingredientes leves que permitem confecionar refeições rápidas e muito saborosas.
»Latas de atum (ou filetes de atum) em azeite ou outras conservas que aprecie. A gordura da conserva dá para temperar o acompanhamento (mandioca, batata-doce, abóbora, inhame…). Se vai ter condições para cozinhar, também levar, devidamente protegida, uma garrafa de azeite e/ou um frasco de óleo de coco.
.Pequenas latas de vegetais em conserva: grão, feijão, lentilhas, beterraba, feijão-verde, ervilhas, milho, cenoura…

»Para não ter de fazer compras nos primeiros dias, pode levar uma embalagem pequena de pão de forma integral fatiado (embalagem de longa duração) e alguns vegetais frescos: cebola, beterraba, nabo, cenoura, pepino.
 »Café solúvel (retirar do frasco e pôr num saquinho reduz o peso na bagagem) e pacotinhos de chá.
»Para confortar o estômago ou para uma fomeca inesperasa, pode levar umas bolachas de aveia e uns frutos secos ou desidratados que aprecie: amêndoas, nozes, damascos, figos, tâmaras...
»Uma opção interessante para quem tem de confecionar o pequeno-almoço é o cappuccino. Não precisa de água nem açúcar, é só juntar água a ferver! O do Continente tem um sabor agradável e não é muito doce.

»Um pouco de açúcar amarelo e uns paus de canela para improvisar uma compota: 1. Limpa-se a fruta (de cascas e sementes), pica-se ou rala-se e põe-se no tacho antiaderente anteriormente referido. 2. Junta-se o açúcar (metade do volume da fruta) e um pau de canela. 3. Deixa-se apurar em lume baixo durante cerca de 40 minutos em lume baixo. 4. Depois de arrefecer, coloque num frasco e guarde no frigorífico, dado que tem muito menos açúcar do que é habitual.
»Alguns temperos (tudo em saquinhos pequenos para reduzir o peso): sal, orégãos, alho em pó, gengibre em pó, salsa e coentros secos, cominhos, etc.
»Se ainda tiver espaço, não se esqueça de levar umas músicas na pen, um caderninho, lápis, borracha, apara-lápis, esferográfica, corretor, uma régua pequena e fita-cola.

T de…
TABANCA – Termo importado do crioulo que significa “povoação, aldeia”.
TABASKI – A maior festa para os muçulmanos do país. Descrição que fiz da celebração de 2016 AQUI
TECELÃO – Quando se viaja para fora de Bissau, é possível ver junto às estradas os ninhos dos teceleões nas palmeiras. Imagens interessantes, dignas do National Geographic. Leia a reportagem que fiz com fotos e vídeo AQUI.

TELEMÓVEL – Para quem não quer ficar arruinado, convém levar um telemóvel desbloqueado e comprar um cartão em Bissau. É necessário apresentar uma fotocópia do passaporte, pelo que pode levá-la de cá. No sítio onde comprar o cartão, se pedir, o funcionário ativa-o no momento. Depois, é só comprar saldo. Usei a rede Orange.
TRANSPORTES
1. Táxi – Do aeroporto para Bissau, poderá encontrar táxis azuis e brancos que prontamente se oferecem para realizar o transporte até à cidade, mesmo quando se trata de voos noturnos. A tarifa não é fixa mas deverá variar entre os 3 000 Francos CFA (durante o dia) até aos 5 000 Francos CFA (à noite) com bagagem incluída.
Para as viagens dentro de Bissau, como não há taxímetros, deverá negociar o preço antes do início da viagem. Chama-se a atenção para o facto de os táxis serem coletivos, isto é, apanham e largam passageiros onde estes se encontrarem ou quiserem sair. Também estão frequentemente em mau estado. Conforme os trajetos, os preços variam entre os 250 Francos CFA e os 1000 Francos CFA. Uma solução para quem não tem transporte próprio durante a estadia é combinar com um taxista o preço ao dia para os circuitos que desejar fazer ou ter um contacto fixo para efetuar deslocações noturnas.
2. Toca-toca – É a forma mais económica de viajar em Bissau e para as localidades circundantes. É uma carrinha com capacidade para 20 passageiros (por vezes vai bem mais cheia) em que as pessoas pedem para sair ou entrar. A tarifa oficial fixa é de 100 Francos CFA por trajeto.
3. Autocarro – Para se deslocar de Bissau para outras cidades ou regiões do país, pode optar pelo serviço de transporte coletivo que se apanha junto do Ledger Plaza Hotel Bissau, na estrada que liga o aeroporto à cidade de Bissau. Estes autocarros vão parando nas diversas cidades até chegarem ao seu destino final e os preços (acessíveis) variam conforme a distância.
4. “Sept places” – É um meio de transporte alternativo para se deslocar até outras cidades ou regiões do país e, como o próprio nome indica, é um carro de 7 lugares que habitualmente só sai quando tem os 7 passageiros. É uma opção para se deslocar até Ziguinchor ou Dakar.
5. “Candonga” – Carrinha com capacidade para 20 pessoas que faz as viagens inter-regiões. Nestas viaturas, pouco seguras, transporta-se um pouco de tudo: pessoas, fruta, equipamentos para casa, mobiliários, vacas, cabras, etc.
6. Alugar um carro – Pode ser uma opção, preferencialmente com condutor, pois há falta de placas indicativas em todo o país e dificuldade em obter muitas vezes informação sobre a direção a tomar junto das populações locais. Só em Bissau e na estrada para Farim se pode falar da existência de indicações claras. A atenção deve ser redobrada nas estradas da Guiné-Bissau, pois é muito frequente estas serem atravessadas por cabras, galinhas, vacas ou porcos, o que pode provocar acidentes.
7. Transportes marítimos Para se deslocar até às Ilhas Bijagós tem dois barcos de carreira, que normalmente saem de Bissau com destino a Bubaque e a Bolama e regressam ao domingo. As horas de partida e chegada são variáveis em função das marés pelo que se aconselha uma passagem pelo porto na véspera onde normalmente é afixado um papel com o destino e horário de saída do barco. Estes barcos propõem dois tipos de bilhetes - o normal e o VIP. Recomenda-se este último pois a diferença de preço não é muita e sempre se viaja com mais conforto numa viagem que pode por vezes demorar mais horas que o previsto.
Uma outra alternativa, existente mas que é do nosso ponto de vista pouco recomendável pela perigosidade que representa, é recorrer às canoas e pirogas motorizadas que fazem a ligação a estas e outras ilhas com percursos, durações e frequências variáveis e adaptáveis ao desejo dos passageiros. Por fim, também há pequenos barcos particulares no porto que poderão ser alugados por preço a combinar, aconselháveis para grupos grandes. Estes barcos estão dotados de rádio e coletes salva-vidas para todos os passageiros.

U de…

V de…
VACINAS – Impõe-se uma ida à consulta do viajante. Sendo muito concorrida, convém marcá-la com um a dois meses de antecedência.
Centros de vacinação (todo o país) AQUI.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante (SPMV), é obrigatória a vacina para a Febre Amarela, bem como o Certificado Internacional de Vacinação, e são de considerar as seguintes vacinas: Hepatite A, Hepatite B, Febre Tifoide, Tétano, Cólera, Difteria, Raiva e Meningite meningocócica.
VISTOS E PASSAPORTES – O visto é obrigatório e deve ser solicitado na Embaixada ou Consulado da Guiné-Bissau mais próximo do ponto de origem. Para isso é necessário o preenchimento de um formulário e entrega de uma foto. É exigido que o passaporte tenha uma validade superior a seis meses.
Convém entrar em contacto com a Embaixada da Guiné-Bissau em Lisboa:
Telefone: (+351) 213 009 081/Morada: Rua de Alcolena, 17-A 1400-004 Lisboa.

W de…

X de…

Y de…

Z de…
ZICA – Com alguns casos confirmados em 2016, a Guiné-Bissau não é uma zona de risco em relação a este vírus. De qualquer modo, como acontece em relação à malária, a melhor prevenção é tentar evitar as picadas dos mosquitos.

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