29/03/18

Guiné-Bissau: informações e dicas (parte III)

Terceira etapa da visita guiada à Guiné-Bissau. Paragens: letras I a P!
Em 2016, pouco antes de aterrar, a primeira imagem de Bissau: o rio Geba como uma imensa serpente a deslizar na planície inundada pelas chuvas de agosto...

I de…
INDEPENDÊNCIA – A Guiné-Bissau foi a primeira colónia a ver a sua independência reconhecida por Portugal, em setembro de 1974.
O poder foi passado ao Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), um movimento independentista fundado em 1956 e liderado por Amílcar Cabral até ao seu assassinato em janeiro de 1973.
Já em setembro de 1973 o PAIGC tinha declarado, de forma unilateral, a independência do país, reconhecida por cerca de 80 países.
Vídeo da RTP sobre o assunto AQUI
INTERNET – Mesmo em Bissau a internet é muito lenta e cai com frequência. Na minha primeira missão em setembro de 2016, em Bissau, houve um apagão de internet que durou uma semana.
Fora de Bissau, é quase uma miragem…

J de…
JAGUDI – É nome em crioulo dos abutres que, com surpresa para quem vem de fora, sobrevoam continuamente a cidade de Bissau.

K de…
KA TEM! Ao contrário do que possa parecer, pela sonoridade, a expressão significa que não há. Quando um vendedor diz “ká tem”, quer dizer que ele não tem o que estamos pedir-lhe.
KEBRA-MOLAS – As estradas que ligam Bissau a outras localidades estão em mau estado, com muitos buracos. Para complicar mais a vida de quem conduz, há em várias delas lombas de cimento não assinaladas, pondo em risco a segurança. Às vezes, há pneus na berma junto às lombas. Uma vez, encontrámos com uma informação-aviso surpreendente: “kebra-molas”. Soubemos depois que é assim que as lombas são conhecidas…

L de…
LARANJAS – De casca verde e menos doces do que as que comemos em Portugal, são uma boa fonte de hidratação. Uma vez um amigo trouxe-me toranjas que lhe tinham oferecido numa tabanca: muito sumarentas, doces e sem aquele travo amargo característico.
LÍNGUAS – Embora seja a língua oficial, apenas cerca de 11% da população fala português. O crioulo é a verdadeira língua franca do país, falada por mais de 90% da população. Enquanto o português é usado nas instituições públicas, nos documentos oficiais e na escola, o crioulo é a língua que todos usam em casa, com os amigos e na rua.
Há ainda a registar a existência de 22 línguas étnicas (algumas em vias de extinção), sendo, por ordem decrescente, estas as mais utilizadas: fula, balanta, mandinga, manjaco e papel.

M de…
MAIMUNA – Este é o nome de uma jovem guineense que costuma ir vender vegetais e frutos à embaixada de Portugal. Vale a pena procurá-la, pois os seus produtos são de qualidade. Ao longo da rua situada nas traseiras do hotel Ancar, há vários vendedores. Basta perguntar-lhes onde fica a banca da Maimuna.
MALÁRIA – A malária mata em todo o mundo 5 pessoas por minuto. Na Guiné-Bissau, morre-se (e muito!) de malária, pelo que a profilaxia (sempre com receita médica) é vivamente aconselhada. Costumo optar pela marca “Mephaquin”, por os comprimidos serem mais baratos e práticos, pois a toma (que se inicia uma semana antes da partida e se prolonga por mais três após o regresso) ocorre apenas uma vez por semana.
No sítio da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante, fazem-se as seguintes recomendações:
A malária, também chamada por paludismo, é uma doença parasitária transmitida por mosquitos e é endémica em vários países tropicais. É uma doença potencialmente fatal se não tratada atempadamente.
1. É imprescindível a prevenção de picada de mosquitos, através do uso de repelentes, vestuário adequado e redes mosquiteiras.
2. Poderá ser necessária a prevenção das formas da doença através da toma de medicação.
3. Após ou durante viagem para zona de risco de Malária, manifestando sintomas sugestivos da doença (febre é sempre, e até prova em contrário, malária) deverá procurar apoio médico e realizar o teste diagnóstico (teste rápido e gota espessa). Deverá sempre informar o seu Médico da sua viagem.
MANCARRA – É nome que se dá ao amendoim. Vem do termo crioulo (tanto da Guiné-Bissau como de Cabo Verde) mancara, com um só r, pois no crioulo não há consoantes duplas. A palavra entrou no português e já está dicionarizada.
MASSACRE DE PIDJIGUITI – Na sequência de uma greve, no dia 3 de agosto de 1959, dos trabalhadores do porto de Bissau, em que estivadores e marinheiros reivindicavam um aumento salarial, houve uma resposta violenta das autoridades coloniais. Resultado: cerca de 50 mortos e uma centena de feridos. A data do massacre foi transformada num dos momentos da luta de libertação da Guiné-Bissau. À entrada do porto (lado esquerdo), há um pequeno monumento alusivo ao massacre.
MOEDA – A moeda local é o franco CFA, com câmbio fixo relativamente ao euro (1 euro = 655,957 francos CFA). Existem apenas duas caixas ATM com sistema Visa em Bissau e o seu funcionamento é incerto. Não existe rede de pagamentos multibanco. As despesas são pagas em dinheiro, pois não existem sistemas de pagamento com cartão de crédito ou multibanco. É possível trocar dinheiro junto dos bancos ou no sistema informal. Dica para fazer o câmbio:
Divide-se por 1000 (basta recuar 3 casas) e multiplica-se por 1,5. Exemplos:
500 fr = 0,75€  / 1000 fr = 1,5€  / 5000 fr = 7,5€  / 25 000 = 37,5€   / 40 000 fr = 60€
MERCADOS – O mais conhecido é o Mercado do Bandim, com quilómetros de extensão ao longo e a partir da Avenida Combatentes da Liberdade da Pátria. Mais convencional, o Mercado Central, junto ao hotel Ancar, merece uma visita.
MOSQUITOS – Para prevenir as picadas, deverá utilizar mosquiteiros, roupas que protejam pernas e braços e usar repelente, não esquecendo os pés, principalmente ao nascer do dia e ao início da noite.

N de…
NOMES A RETER
Amílcar Cabral (1924-1973) – Foi poeta, agrónomo, fundador do PAIGC e “pai” da independência conjunta de Cabo Verde e Guiné-Bissau. Foi Assassinado 1973. Para saber mais, clique AQUI.
José Carlos Schwarz (1949-1977) – Foi poeta e músico da Guiné-Bissau, amplamente reconhecido como um dos mais importantes e notáveis músicos da Guiné-Bissau. Escreveu em português e francês, mas cantava em crioulo.
Para saber mais, clique AQUI
Veja e ouça uma das suas canções conhecidas AQUI.
Karina Gomes – Um dos mais importantes nomes da música guineense na atualidade. Saiba mais sobre ela AQUI e ouça o sucesso "Amor Livre" AQUI
Vasco Cabral (1926-2005) – Poeta guineense lutador pela independência e um dos líderes do PAIGC. Para saber mais sobre a vida e obra, com destaque para o magnífico poema “Esperança”, clique AQUI

O de…
ÓLEO DE PALMA – Exibindo um cor de laranja vivo, é um dos produtos interessantes que vai encontrar na Guiné. De produção artesanal e com sabor suave, entra em várias receitas guineenses.

P de…
PANOS – Um dos produtos típicos da Guiné-Bissau são os panos coloridos. Entre eles, destaca-se o tradicional pano de penteobjeto de grande significado para a etnia Papel, intervém em todas as etapas da sua vida e é um objeto sagrado. Quantos mais panos se arrecada em vida mais rico se é”. (http://www.independenciaslusa.info/arquivo-fotos-panos-de-pente-transformaram-se-em-destino-turistico/)
O pano de pente, de tear artesanal, tem uma grande importância social e cultural na Guiné-Bissau. A tecelagem guineense é uma tradição bem antiga e a versatilidade dos panos de pente não a deixam cair em desuso.
Devido ao seu valor patrimonial no seio dos guineenses os panos de pente são usados em várias ocasiões de grande significado para o país, passando pela política, moda, cerimónias fúnebres, casamentos tradicionais e decoração.
Apesar de ser um produto bastante dispendioso, devido a importação do algodão, está sempre presente nos rituais guineenses. (http://panodepenteguineense.weebly.com/)
PEPINOS – Mais curtos e bojudos dos que os que costumamos consumir em Portugal, são muito tenros e saborosos.
PRATOS GUINEENSES – A cozinha tradicional guineense não nos deixa indiferentes pela palete de sabores, aromas, ingredientes e cores que usa. Uma cozinha simples mas surpreendente, resultante do cruzamento da cultura gastronómica ancestral africana - com produtos da terra como legumes ou fruta que só ali encontramos - com matizes da cozinha tradicional portuguesa.
As ostras são abundantes na Guiné-Bissau e convidam a um bom convívio. Os camarões de Farim são outra iguaria a não perder.
A lima, a malagueta, o óleo de palma ou a mancarra (amendoim) estão sempre presentes na cozinha guineense caracterizada por sabores intensos e condimentados. A acompanhar, encontramos invariavelmente o arroz. Os peixes como a bica são muito apreciados e normalmente comem-se grelhados com um molho feito à base de cebola, limão e malagueta. E claro, arroz!
De referir que há etnias que comem macaco, o que constitui uma verdadeira ameaça para algumas espécies, e a etnia Papel come cão.
Alguns pratos representativos da gastronomia guineense:
1. Sigá – ingredientes principais: quiabos, camarões (ou peixe ou carne), djagatu, óleo de palma. Receitas AQUI e AQUI.
2. Caldo de chabéu – ingredientes principais: chabéu (fruto alaranjado da palmeira), mandioca, djagatu, carne ou peixe.
3. Caldo branco – ingredientes principais: peixe, limão, alho, tomate.
4. Caldo de mancarra – ingredientes principais: frango, pasta de amendoim, tomate, limão, óleo de palma, malagueta. Deixo-vos a minha receita  de caldo de mancarra AQUI.
5. Caldo de peixe – ingredientes principais: peixes variados, óleo de palma, alho, cebola, arroz.
6. pitche-patche de ostras - ingredientes principais: ostras, arroz, tomate, limão.
Receita AQUI.
7. Cafriela – galinha da terra ou carneiro grelhados com molho de limão, malagueta e cebola.
8. Camarões à guineense – ingredientes principais: camarão, pepino, piripiri. Receita AQUI.
9. Abacate recheado com atum – ingredientes principais: abacate, atum, limão, natas, coco. Receita AQUI.
10. Frango com baguitche - ingredientes principais: frango, baguitche (ou espinafres), alho, óleo de palma, limão. Receita AQUI.
11. Tieboudienne (de influência senegalesa) – guisado de peixe, com arroz e legumes.
12. Poportada – Prato preparado em base de farinha de arroz. O ingrediente principal é a carne de porco salgado.
13. Katore – prato típico dos Bijagós feito com peixe cozido misturado com óleo de palma.
PROVÉRBIOS CRIOULOS - Clique AQUI.

Guiné-Bissau: informações e dicas (parte I): AQUI
Guiné-Bissau: informações e dicas (parte II): AQUI

Sem comentários:

Enviar um comentário