As minhas colegas voluntárias Bia e Helena em ação.
Apesar das limitações (falta de materiais e termos de construir atividades de um dia para o outro), o trabalho está a decorrer satisfatoriamente. A Bia e a Helena no Centro da Ribeira da Craquinha e a Márcia e eu no Centro Pedro Rolada. Nas próximas semanas, vamos rodar as equipas e os locais de trabalho.
As crianças estão sedentas de afeto. Algumas vêm a correr esperar-nos ao caminho para nos darem abraços e beijinhos. Põem as mãozinhas nas nossas e já não nos querem largar. A custo, lá conseguimos pô-las em modo trabalho. Adoram desenhar e atividades lúdicas, o que é natural. Como temos ao mesmo algumas muito pequeninas, que ainda não sabem falar, outras que não sabem escrever e um outro caso de deficit cognitivo, temos de recorrer ao milagre da desmultiplicação de estratégias.
Como gosto de escrever (embora nunca o tivesse feito para crianças), construí uma pequena história em que a personagem central é um dos coordenadores dos centros (o Máxi) que todas as crianças conhecem. A mãe dele, que também entra na história, chama-se mesmo Filó.
Foi um sucesso e depois de uma atividade de compreensão, enquanto lhe contávamos a história, fizeram todos desenhos relacionados com o mar. Já há novo conto em fase de conclusão ("Uma estrela-do-mar chamada Estrelinha"), que partilharei mais tarde, pois só temos acesso à net quando vamos à cidade a um café com wi-fi.
Abraço da Ribeira da Craquinha (com chuva todos os dias, para gáudio de todos, pois tal não acontecia há dois anos).
ProfAP
Máxi, um menino traquina
Era uma vez um menino chamado Máxi. Tinha cinco
anos e nunca parava quieto.
Um dia, apanhou a mãe distraída e fugiu de casa.
Andou, andou, andou, até que chegou ao porto onde
atracam os barcos que vão para Santo Antão.
Ficou ali parado a ver as pessoas as saírem e a
entrarem no barco e a olhar para a sua grande paixão: o mar imenso…
Imaginou-se um peixe a nadar velozmente ou mesmo
uma gaivota com duas grandes asas abertas a voar no céu azul e a ver lá de cima
o mar também azul.
Era tão pequenino que as pessoas que iam e vinham
nem reparavam nele.
De repente, ouviu-se ao longe um grito ameaçador:
-- Máxi, meu malandro, vem cá que vais levar com o
chinelo.
Era a mãe, a D. Filó.
Embora os pais nunca na vida lhe tivessem batido,
o Máxi ficou tão atrapalhado que escorregou e caiu do cais, mergulhando na água
como uma pedra.
Mas ninguém sabe como, começou a esbracejar e
nadou como um campeão até à ilha de Santo Antão.
Juntou-se muita gente no cais a ver aquela coisa
espantosa nunca antes vista.
Quando Máxi regressou ao cais do Mindelo, sempre a
nadar, foi aplaudido com palmas e ouviram-se frases muito bonitas: “Viva o
Máxi!”, “O Máxi é um campeão!”, “O Máxi é o nosso herói!”
Sem ligar ao que lhe diziam, o menino correu para
a mãe e abraçou-se às suas saias com as lágrimas nos olhos.
Olhou para ela e disse:
-- Mãe, já sou grrrande!
Ela baixou-se, olhou para ele e, com um grande
sorriso, respondeu:
-- És sim, meu filho. Devias levar com o chinelo,
mas, como nadaste tão bem, vais deliciar-te com uma catchupa de cevada e cuscus-bolo
que a mamã vai fazer especialmente para ti.
Deu-lhe a mão e foram para casa muito felizes!
António Pereira (5-09-2018)
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