Apresento-vos o Frei Silvino!
Como nas histórias anteriores, esta baseia-se nas características físicas e psicológicas de alguém real: neste caso, o Frei Silvino, presidente do Centro Jovem, parceiro da associação de voluntariado "Para Onde?", que me integrou nesta missão.
Embora acessível, a linguagem é mais elaborada, pelo que se destina a alunos a partir do 3.º e 4.º anos. Abraço e boa leitura!
O homem queria ser um
pássaro!
Era uma vez um homem que queria ajudar todos os
meninos do mundo. Alto, robusto, barba branca e sorriso fácil: era assim o Frei
Silvino.
Como andava muito depressa, era difícil
acompanhá-lo, a não ser em passo de corrida ou quando alguém o interpelava. Aí,
parava e correspondia efusivamente. “Como está a “senhorra?”, dizia ele com o
seu “r” carregado.
E seguia o seu caminho em direção à Ribeira da Craquinha
ou à Pedra Rolada.
Mas, apesar de o sorriso parecer o mesmo de sempre,
havia qualquer coisa que andava a roubar-lhe a alegria.
Muitas vezes, sentava-se e punha a cabeça entre as
mãos imóvel e sem dizer nada. Outras vezes, suspirava e dizia para si mesmo:
-- Pobrres crrianças abandonadas neste mundo…
Um dia, saiu de manhã muito cedo, atravessou a Craquinha e dirigiu-se,
no seu passo decidido, na direção de Alto Martins.
Esgueirou-se por entre as casas, contornou pequenos
arbustos espinhosos e, depois de atravessar uma zona de destroços de carros
abandonados, percorreu a longa planície de terra cor de tijolo, com leitos
secos de pó de lava, tudo emoldurado pelo cinzento difuso das montanhas ao
longe.
Passada quase uma hora a caminhar, chegou a uma
casa abandonada na base do monte. Sentou-se numa pedra escura e áspera, fechou os
olhos e ali ficou numa demorada e secreta conversa com Deus.
Por fim, impulsionado por uma força vinda não se
sabe de onde, levantou-se e começou a subir, escolhendo cuidadosamente as
pedras onde punha os pés.
Ao passar junto a pequena bacia de água, resultado
do fio líquido, fraco mas contínuo, que se escoava das pedras, baixou-se e
humedeceu a testa e os lábios.
Chegado ao ponto mais alto, voltou a sentar-se,
olhou para céu, entrou numa espécie de transe e começou a dizer coisas que só
ele entendia…
Por fim, levantou-se e disse:
-- Ajudai-me, meu Deus!
Logo depois de dizer estas palavras, sentiu uma
dor quase insuportável na zona dos ombros, enquanto de lá começavam a sair
penas pretas e luzidias.
Em pouco tempo, formaram-se no seu corpo umas
enormes e fortes asas.
Sem uma palavra, lançou-se no vazio e voou vigorosamente
para o interior do continente africano.
Ao fim do dia, houve alvoroço no centro da Ribeira
quando algo nunca visto, com grandes asas, começou a descer do céu em direção
centro do campo de futebol. Era o Frei Silvino!
Os adultos fugiram espavoridos, mas as crianças,
curiosas, correram para ele e brincaram nas suas asas como se de um escorrega
se tratasse.
Depois de uma breve oração em silêncio, as asas
recolheram, voltando a ser o Frei Silvino de sempre.
E todos os dias era assim: subia o Alto Martins
(ou o Monte Verde, no lado oposto), cresciam-lhe as asas e voava ninguém sabe
para onde. Ao fim dia, aterrava sempre com aparato no campo de
futebol com uma precisão milimétrica.
Para alívio de todos, voltou a ser a pessoa alegre
que sempre fora.
E viveu feliz para sempre!
António Pereira
(14-09-2018)
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