Monte Cara (ver a seta), um dos ex-libris da cidade do Mindelo
Aqui fica a segunda história, que as crianças ainda não conhecem. O Pablo é um colaboradores do Espaço Jovem e é mesmo assim como a personagem da história, um jovem idealista com um coração de ouro! Abraço a todos. ;)
História de uma estrela-do-mar chamada Estrelinha
Era uma vez uma estrelinha-do-mar chamada
Estrelinha muito brincalhona.
Era pequenina, mas, para uma estrela-do-mar, era
muito desembaraçada e corria em todas as direções no fundo do mar.
É caso para dizer que não parava quieta e, quando
ela passava, todos sorriam e diziam sempre:
-- Então, Estrelinha, feliz como sempre?
-- Ya! – dizia ela enquanto mastigava as suas
algas preferidas como se fossem pastilha elástica.
Estava sempre a fazer das suas. Dançava e dava
cambalhotas diante da moreia Dentuça, o que era perigoso, pois a moreia, com os
seus dentes enormes e aguçados, não era para brincadeiras.
Pregava sustos ao choco Malaquias que, apanhado de
surpresa, lançava tinta em todas as direções.
Fazia cócegas na barriga cinzenta do atum Tonecas
que não resistia e não parava de rir.
A vida da Estrelinha era sempre assim: mil e uma
brincadeiras e receber carinhos e muitos beijinhos e abraços a toda a hora.
Dito por outras palavras, era feliz e fazia felizes todos os que a conheciam.
Um dia em que estava a brincar às escondidas com o
carapau Juvenal, a sardinha Nelita e a cavala Milu, foi apanhada na rede de um
pescador.
De início, nem se apercebeu do que estava a
acontecer, mas quando foi atirada para a areia da praia Laginha pelo pescador
sem coração, muito triste, começou a chorar baixinho….
Chorou, chorou, chorou, mas parecia que ninguém ia
ajudar a Estrelinha.
Quando tudo parecia perdido, sentiu o toque suave
de uma mão a apanhá-la da areia com muito carinho.
Era o Pablo, um jovem sonhador, com um coração de
ouro e um amor infinito por todos os seres vivos, plantas ou animais.
Olhou para a estrela-do-mar e disse-lhe ao ouvido:
-- Vou pôr-te já na água e vais ficar boa!
Com voz sumida, ela respondeu:
-- Obrigada, mas é demasiado tarde. O sol secou-me
a pele e não posso voltar ao mar. Leva-me contigo, amigo querido, e a
conchega-me contra o teu coração. Neste momento, o teu amor é o conforto de que
preciso.
Pablo, com os olhos cheios de lágrimas, levantou a
t-shirt amarela e, delicadamente, pôs a Estrelinha junto ao peito.
Andou sem destino pelas ruas do Mindelo, enquanto
a sua nova amiga, embalada pelas batidas do coração dele (pum-pum, pum-pum,
pum-pum), adormeceu profundamente.
Sentou-se num banco de jardim na Praça Nova e,
vencido pelo cansaço que a tristeza sempre traz, adormeceu também.
Quando o sol foi para a caminha dormir e veio a
noite escura, Pablo acordou e, instintivamente, levou a mão ao peito.
Estremeceu quando se apercebeu de que a estrelinha-do-mar tinha desaparecido.
Como um louco, começou a andar de um lado para o
outro e a gritar:
-- Estrelinha! Estrelinha, onde estás? Ó meu Deus,
como é que fui adormecer assim. Nunca me vou perdoar! Estrelinha! Estrelinha!
Estrelinha!
Quando já desesperava, ouviu uma vozinha que não
sabia de onde vinha:
-- Psst, psst. Tou aqui…
-- És tu, Estrelinha? Tás onde?
-- Olha para cima. Tou aqui!
Ele olhava para cima, mas não a vendo em lado
nenhum, ficou muito confuso.
-- Olha para o céu, Pablo. Vou fazer-te um sinal.
Quando olhou, ele viu uma estrelinha pequenina a
piscar.
-- Mas… co… como é possível? – gaguejou ele com
toda a alegria do mundo.
-- Não podia voltar ao mar, mas o teu amor por mim
era tão forte que aconteceu um milagre: junto ao teu peito, transformei-me numa
estrela a sério e voei para o céu. Tenho muitas companheiras de brincadeira,
mas o meu melhor amigo és tu, Pablo!
E ficaram os dois ali a conversar o resto da
noite. Ele de pé, sobre o banco de jardim e ela debruçada na varanda do céu.
E todas as noites era assim: conversas sem fim.
Ainda hoje, sentado no tanque de pedra, que ele
próprio construiu num terreno no Vale da Lua, junto ao Monte Verde, Pablo passa
as noites a falar de tudo e mais uma coisa com a Estrelinha.
E vão ser felizes para sempre!
António Pereira
(6-09-2018)
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