Com a parte IV, conclui-se hoje a visita guiada pela Guiné-Bissau. Esperando que possa ser útil para voluntários ou simples viajantes, este guia está aberto às vossas sugestões. Abraço para todos, em especial para os amigos guineenses em Bissau e para os que, como bolseiros, estão a estudar em Portugal.
Guiné-Bissau: manual de sobrevivência
de A
a Zica!
Q de…
QUIABO – Conhecidos pelo nome candja (termo crioulo), maiores e mais tenros dos que conhecemos
cá, são muito saborosos e entram em vários pratos guineenses.
R de…
RELIGIÃO – Cerca de metade da população pratica a religião
muçulmana, essencialmente da corrente sunita. Entre 10 a 15% são cristãos e
grande parte da população, professando uma ou outra religião ou mesmo nenhuma,
tem um grande cariz animista e pratica de forma ativa as crenças tradicionais e
ancestrais africanas. Para os animistas, os espíritos são omnipresentes (vivem
nas rochas, nas estátuas, nas árvores, na água, nas pessoas, nos mortos) e são
eles que dão vida e protegem as coisas e podem combater as doenças, as secas,
as inundações, as tragédias, mas também podem castigar e provocar o mal. É
comum entre os animistas o sacrifício de animais para agradar aos espíritos,
nomeadamente galinhas para se alcançar uma graça, uma boa colheita ou até para
que se possa tomar uma decisão e o recurso a amuletos diversos para proteção de
quem os usa.
RUBANE – A ilha (dos Bijagós) onde é proibido derramar
sangue. Leia um artigo interessante AQUI.
S de…
SABORES DA TABANKA –
Situado na Rua Guerra Mendes, nº 18 (à esquerda, na penúltima rua antes de
chegar ao porto de Bissau), este espaço de degustação e venda de produtos
locais, inaugurado em outubro de 2016 e financiado pela União Europeia, merece
uma visita. Entre outros produtos, destaco o mel, o óleo de palma e a excelente
pasta 100% amendoim para barrar no pão ou cozinhar. Facebook AQUI.
SEGURANÇA –
A cidade de Bissau é uma cidade relativamente segura onde, apesar de tudo, se
devem observar os cuidados básicos. Desaconselham-se os passeios pedonais ao
cair do dia ou noturnos, pois as ruas são escuras, há pouca ou nenhuma
iluminação pública e é nestas alturas que se podem verificar assaltos,
perpetrados por grupos de jovens. Também é pouco recomendável andar com objetos
de valor e ostentar câmaras fotográficas ou telemóveis na rua, nomeadamente no
Mercado do Bandim. Em Bissau, a polícia está muito ativa durante o dia, mas são
essencialmente polícias da brigada de trânsito que se encontram na rua e há
várias esquadras espalhadas pela cidade, devidamente assinaladas. No resto do
país é muito raro verificarem-se ocorrências de assaltos, as pessoas são muito hospitaleiras
e solícitas quando se cruzam com turistas. As viagens fora de Bissau deverão ocorrer
durante o dia, pois as estradas e as povoações não estão iluminadas e à noite o
auxílio poderá ser bastante difícil.
Óleo de palma, sumo de caju, mel, amendoim... |
Mancarra ralada = excelente pasta de amendoim para cozinhar ou barrar no pão! |
SUGESTÕES
Planifique bem a arrumação do que quer levar
(e/ou trazer). Aproveite ao máximo a bagagem de mão, mas não se esqueça de que
há produtos e objetos que só podem ir na bagagem de porão.
1. Kit-farmácia – Como o sistema de
saúde é extremamente deficitário e o stock das farmácias é muito limitado, é aconselhável que se faça acompanhar de um kit de primeiros socorros que inclua antibiótico, antidiarreico, anti-histamínico,
paracetamol, betadine, ligaduras e pensos, assim como os seus medicamentos
habituais. Além disso, aconselha-se que leve pastilhas desinfetantes de água ou um pouco de lixívia. Ver entrada “Água”. Finalmente, mas não menos sal, um saquinho com sal. Inflamações de garganta, comichões ou alergias ao pó ou pólen podem ser prevenidas ou amenizadas com uma mezinha simples recomendada meu médico. Dissolva um colher de sopa num litro de água e:
a) gargareje, mantendo a solução em contacto com a garganta pelo menos 30 segundos;
b) Encha uma seringa (ver imagem) e despeje-a na das narina 1, tapando-a para que o líquido saia pela 2. Repita o processo com a narina 2.
Desinfeta e alivia sintomas de entupimento. A descrição pode assustar, mas se eu (que sou impressionável com essas coisas) consigo fazê-lo, qualquer pessoa consegue. Simples, barato e eficaz!
Aí está a minha companheira de viagem. Numa loja chinesa, custou menos de 1€. |
2. Vestuário
e acessórios – Já estive em Bissau na estação
das chuvas (maio/junho, agosto/setembro e setembro/outubro) e na estação seca
(janeiro).
Nas
quatro vezes, optei pelo trio t-shirt-calções-sandálias e senti-me sempre
confortável.
Na
estação seca, faz fresco durante a noite e de manhã até por volta das 9h00,
pelo que é aconselhável, para pessoas mais sensíveis, levar um casaquinho e
umas calças (tecidos leves). Roupa e peúgas, sempre 100% algodão.
Na
estação das chuvas, umas botas leves e impermeáveis (nunca de plástico ou
borracha), são uma boa opção. Comprei as minhas na Decathlon. Embora quando
caem chuvadas tropicais, não haja nada que lhes resista, um pequeno
guarda-chuva mais ou menos robusto será sempre útil. Capas para a chuva são
difíceis de suportar naquele calor húmido e abafado.
Seja
qual for a estação, leve sempre uns bons óculos de sol, um chapéu de pano
transpirável para proteger a cabeça e protetor sol.
3. Lanterna – Sendo frequentes os cortes de eletricidade, mesmo
em Bissau, é importante levar na bagagem uma lanterna.
Encontrei esta na Decathlon. É pequena, dá boa luz e não precisa de pilhas, bastando dar à manivela para a carregar. |
4. Minigeleira e miniacumulador de frio – É muito mais
leve do que um termo e permite lá colocar 2 a 3 garrafas de água pequenas.
5. Cabides – Além de servirem para pôr a roupa no roupeiro, são
ótimos para pôr a secar a roupa que se for lavando.
6. Sabão azul e branco – Dá para lavar a roupa e também a louça.
7. Um saco com detergente em pó para lavar à mão.
8. Uma pequena extensão com três
“tomadas”.
9. Molas e uma corda fina e resistente para improvisar um estendal.
10. Uma microcoluna de som para ligar ao telemóvel e ouvir rádio.
11. Um conjunto (tudo de plástico) de garfo,
faca, colher, um prato resistente
e um copo (dá para bebidas e fazer
café) permite comer em trânsito se for necessário.
12. Sugestões a seguir/adaptar em função do tempo que vai ficar na Guiné e
condições de alojamento e espaço disponível na(s) mala(s) de viagem:
»Há nos supermercados e estabelecimentos chineses caixas de plástico resistentes de diferentes dimensões e com tampa
que dão para encaixar na mala de viagem e proteger coisas frágeis ou com
líquidos.
»Um pequeno tacho leve e
antiaderente pode servir de panela e de frigideira. Permite também ferver água.
»Um pequeno jarro elétrico
será muito útil para ferver água para fazer café, chá ou pratos instantâneos
como cuscuz ou noodles. E também para
fazer a barba.
Ingredientes para uma refeição rápida: água a ferver sobre os noodles, esperar uns minutos e já está! |
»A parte da mandolina que
corta às fatias, um pequeno ralador,
um descascador e uma pequena faca são ajudas preciosas para preparar
saladas.
Mais uma equipa de apoio ao viajante-voluntário! |
»Produtos para refeições rápidas de que pode levar um pouco de cada: arroz, massa, cuscuz, bulgur,
cogumelos secos, tomate seco, um frasco de vidro de cogumelos de conserva (o frasco dará para
acondicionar uma compota).
Ingredientes leves que permitem confecionar refeições rápidas e muito saborosas. |
»Latas de atum (ou filetes
de atum) em azeite ou outras conservas que aprecie. A gordura da conserva dá
para temperar o acompanhamento (mandioca, batata-doce, abóbora, inhame…). Se
vai ter condições para cozinhar, também levar, devidamente protegida, uma
garrafa de azeite e/ou um frasco de óleo de coco.
.Pequenas latas de vegetais em
conserva: grão, feijão, lentilhas, beterraba, feijão-verde, ervilhas,
milho, cenoura…
»Para não ter de fazer compras nos primeiros dias, pode levar uma
embalagem pequena de pão de forma
integral fatiado (embalagem de longa duração) e alguns vegetais frescos: cebola, beterraba, nabo, cenoura, pepino.
»Café solúvel (retirar do frasco e
pôr num saquinho reduz o peso na bagagem) e pacotinhos de chá.
»Para confortar o estômago ou para uma fomeca inesperasa, pode levar umas bolachas de aveia e uns frutos
secos ou desidratados que aprecie: amêndoas, nozes, damascos, figos, tâmaras...
»Uma opção interessante para quem tem de confecionar o pequeno-almoço é
o cappuccino.
Não precisa de água nem açúcar, é só juntar água a ferver! O do Continente tem
um sabor agradável e não é muito doce.
»Um pouco de açúcar amarelo e
uns paus de canela para improvisar
uma compota: 1. Limpa-se a fruta (de cascas e sementes), pica-se ou rala-se e
põe-se no tacho antiaderente anteriormente referido. 2. Junta-se o açúcar
(metade do volume da fruta) e um pau de canela. 3. Deixa-se apurar em lume
baixo durante cerca de 40 minutos em lume baixo. 4. Depois de arrefecer,
coloque num frasco e guarde no frigorífico, dado que tem muito menos açúcar do
que é habitual.
»Alguns temperos (tudo em
saquinhos pequenos para reduzir o peso): sal, orégãos, alho em pó, gengibre em
pó, salsa e coentros secos, cominhos, etc.
»Se ainda tiver espaço, não se esqueça de levar umas músicas na pen, um caderninho, lápis, borracha,
apara-lápis, esferográfica, corretor, uma régua pequena e fita-cola.
T de…
TABANCA – Termo importado do crioulo que significa “povoação,
aldeia”.
TABASKI – A maior festa para os muçulmanos do país. Descrição
que fiz da celebração de 2016 AQUI.
TECELÃO – Quando se viaja para fora de Bissau, é possível ver
junto às estradas os ninhos dos teceleões nas palmeiras. Imagens interessantes, dignas do National Geographic. Leia a reportagem que fiz com fotos e vídeo AQUI.
TELEMÓVEL – Para quem não quer ficar arruinado, convém levar um
telemóvel desbloqueado e comprar um cartão em Bissau. É necessário apresentar
uma fotocópia do passaporte, pelo que pode levá-la de cá. No sítio onde comprar
o cartão, se pedir, o funcionário ativa-o no momento. Depois, é só comprar
saldo. Usei a rede Orange.
TRANSPORTES
1. Táxi – Do aeroporto para Bissau, poderá encontrar táxis
azuis e brancos que prontamente se oferecem para realizar o transporte até à cidade,
mesmo quando se trata de voos noturnos. A tarifa não é fixa mas deverá variar
entre os 3 000 Francos CFA (durante o dia) até aos 5 000 Francos CFA (à noite)
com bagagem incluída.
Para
as viagens dentro de Bissau, como não há taxímetros, deverá negociar o preço
antes do início da viagem. Chama-se a atenção para o facto de os táxis serem
coletivos, isto é, apanham e largam passageiros onde estes se encontrarem ou
quiserem sair. Também estão frequentemente em mau estado. Conforme os trajetos,
os preços variam entre os 250 Francos CFA e os 1000 Francos CFA. Uma solução
para quem não tem transporte próprio durante a estadia é combinar com um
taxista o preço ao dia para os circuitos que desejar fazer ou ter um contacto
fixo para efetuar deslocações noturnas.
2. Toca-toca – É a forma mais económica de viajar em Bissau e para
as localidades circundantes. É uma carrinha com capacidade para 20 passageiros
(por vezes vai bem mais cheia) em que as pessoas pedem para sair ou entrar. A
tarifa oficial fixa é de 100 Francos CFA por trajeto.
3. Autocarro – Para se deslocar de Bissau para outras cidades ou
regiões do país, pode optar
pelo serviço de transporte coletivo que se apanha junto do Ledger Plaza Hotel Bissau,
na estrada que liga o aeroporto à cidade de Bissau. Estes autocarros vão
parando nas diversas cidades até chegarem ao seu destino final e os preços
(acessíveis) variam conforme a distância.
4. “Sept places” – É um meio de transporte alternativo para se
deslocar até outras cidades ou regiões do país e, como o próprio nome indica, é
um carro de 7 lugares que habitualmente só sai quando tem os 7 passageiros. É
uma opção para se deslocar até Ziguinchor ou Dakar.
5. “Candonga” – Carrinha com
capacidade para 20 pessoas que faz as viagens inter-regiões. Nestas viaturas,
pouco seguras, transporta-se um pouco de tudo: pessoas, fruta, equipamentos
para casa, mobiliários, vacas, cabras, etc.
6. Alugar um carro – Pode ser uma opção, preferencialmente com condutor,
pois há falta de placas indicativas em todo o país e dificuldade em obter
muitas vezes informação sobre a direção a tomar junto das populações locais. Só
em Bissau e na estrada para Farim se pode falar da existência de indicações
claras. A atenção deve ser redobrada nas estradas da Guiné-Bissau, pois é muito
frequente estas serem atravessadas por cabras, galinhas, vacas ou porcos, o que
pode provocar acidentes.
7. Transportes marítimos – Para se deslocar até às Ilhas Bijagós
tem dois barcos de carreira, que normalmente saem de Bissau com destino a
Bubaque e a Bolama e regressam ao domingo. As horas de partida e chegada são
variáveis em função das marés pelo que se aconselha uma passagem pelo porto na
véspera onde normalmente é afixado um papel com o destino e horário de saída do
barco. Estes barcos propõem dois tipos de bilhetes - o normal e o VIP.
Recomenda-se este último pois a diferença de preço não é muita e sempre se
viaja com mais conforto numa viagem que pode por vezes demorar mais horas que o
previsto.
Uma
outra alternativa, existente mas que é do nosso ponto de vista pouco recomendável
pela perigosidade que representa, é recorrer às canoas e pirogas motorizadas
que fazem a ligação a estas e outras ilhas com percursos, durações e
frequências variáveis e adaptáveis ao desejo dos passageiros. Por fim, também há
pequenos barcos particulares no porto que poderão ser alugados por preço a combinar,
aconselháveis para grupos grandes. Estes barcos estão dotados de rádio e
coletes salva-vidas para todos os passageiros.
U de…
V de…
VACINAS – Impõe-se uma ida à consulta do viajante. Sendo
muito concorrida, convém marcá-la com um a dois meses de antecedência.
Centros
de vacinação (todo o país) AQUI.
Segundo a Sociedade
Portuguesa de Medicina do Viajante (SPMV), é obrigatória a vacina para a Febre
Amarela, bem como o Certificado Internacional de Vacinação, e são de considerar
as seguintes vacinas: Hepatite A, Hepatite B, Febre Tifoide, Tétano, Cólera,
Difteria, Raiva e Meningite meningocócica.
VISTOS E PASSAPORTES –
O visto é obrigatório e deve ser solicitado na Embaixada ou Consulado da
Guiné-Bissau mais próximo do ponto de origem. Para isso é necessário o
preenchimento de um formulário e entrega de uma foto. É exigido que o passaporte
tenha uma validade superior a seis meses.
Convém
entrar em contacto com a Embaixada da Guiné-Bissau em Lisboa:
Telefone:
(+351) 213 009 081/Morada: Rua de Alcolena, 17-A 1400-004 Lisboa.
W de…
X de…
Y de…
Z de…
ZICA – Com alguns casos confirmados em
2016, a Guiné-Bissau não é uma zona de risco em relação a este vírus. De
qualquer modo, como acontece em relação à malária, a melhor prevenção é tentar evitar as
picadas dos mosquitos.