30/03/18

Guiné-Bissau: informações e dicas (IV)

Com a parte IV, conclui-se hoje a visita guiada pela Guiné-Bissau. Esperando que possa ser útil para voluntários ou simples viajantes, este guia está aberto às vossas sugestões. Abraço para todos, em especial para os amigos guineenses em Bissau e para os que, como bolseiros, estão a estudar em Portugal.

Guiné-Bissau: manual de sobrevivência
de A a Zica!

Parte I (de A a C): AQUI.
Parte II (de D a H): AQUI.
Parte III (de I a P): AQUI
Parte IV (de Q a Zica):
Q de…
QUIABO – Conhecidos pelo nome candja (termo crioulo), maiores e mais tenros dos que conhecemos cá, são muito saborosos e entram em vários pratos guineenses.


R de…
RELIGIÃO – Cerca de metade da população pratica a religião muçulmana, essencialmente da corrente sunita. Entre 10 a 15% são cristãos e grande parte da população, professando uma ou outra religião ou mesmo nenhuma, tem um grande cariz animista e pratica de forma ativa as crenças tradicionais e ancestrais africanas. Para os animistas, os espíritos são omnipresentes (vivem nas rochas, nas estátuas, nas árvores, na água, nas pessoas, nos mortos) e são eles que dão vida e protegem as coisas e podem combater as doenças, as secas, as inundações, as tragédias, mas também podem castigar e provocar o mal. É comum entre os animistas o sacrifício de animais para agradar aos espíritos, nomeadamente galinhas para se alcançar uma graça, uma boa colheita ou até para que se possa tomar uma decisão e o recurso a amuletos diversos para proteção de quem os usa.
RUBANE – A ilha (dos Bijagós) onde é proibido derramar sangue. Leia um artigo interessante AQUI

S de…
SABORES DA TABANKA – Situado na Rua Guerra Mendes, nº 18 (à esquerda, na penúltima rua antes de chegar ao porto de Bissau), este espaço de degustação e venda de produtos locais, inaugurado em outubro de 2016 e financiado pela União Europeia, merece uma visita. Entre outros produtos, destaco o mel, o óleo de palma e a excelente pasta 100% amendoim para barrar no pão ou cozinhar. Facebook AQUI.
Óleo de palma, sumo de caju, mel, amendoim...

Mancarra ralada = excelente pasta de amendoim para cozinhar ou barrar no pão!
SEGURANÇA – A cidade de Bissau é uma cidade relativamente segura onde, apesar de tudo, se devem observar os cuidados básicos. Desaconselham-se os passeios pedonais ao cair do dia ou noturnos, pois as ruas são escuras, há pouca ou nenhuma iluminação pública e é nestas alturas que se podem verificar assaltos, perpetrados por grupos de jovens. Também é pouco recomendável andar com objetos de valor e ostentar câmaras fotográficas ou telemóveis na rua, nomeadamente no Mercado do Bandim. Em Bissau, a polícia está muito ativa durante o dia, mas são essencialmente polícias da brigada de trânsito que se encontram na rua e há várias esquadras espalhadas pela cidade, devidamente assinaladas. No resto do país é muito raro verificarem-se ocorrências de assaltos, as pessoas são muito hospitaleiras e solícitas quando se cruzam com turistas. As viagens fora de Bissau deverão ocorrer durante o dia, pois as estradas e as povoações não estão iluminadas e à noite o auxílio poderá ser bastante difícil.
SUGESTÕES
Planifique bem a arrumação do que quer levar (e/ou trazer). Aproveite ao máximo a bagagem de mão, mas não se esqueça de que há produtos e objetos que só podem ir na bagagem de porão.
1. Kit-farmácia – Como o sistema de saúde é extremamente deficitário e o stock das farmácias é muito limitado, é aconselhável que se faça acompanhar de um kit de primeiros socorros que inclua antibiótico, antidiarreico, anti-histamínico, paracetamol, betadine, ligaduras e pensos, assim como os seus medicamentos habituais. Além disso, aconselha-se que leve pastilhas desinfetantes de água ou um pouco de lixívia. Ver entrada “Água”. Finalmente, mas não menos sal, um saquinho com sal. Inflamações de garganta, comichões ou alergias ao pó ou pólen podem ser prevenidas ou amenizadas com uma mezinha simples recomendada meu médico. Dissolva um colher de sopa num litro de água e: 
a) gargareje, mantendo a solução em contacto com a garganta pelo menos 30 segundos; 
b) Encha uma seringa (ver imagem) e despeje-a na das narina 1, tapando-a para que o líquido saia pela 2. Repita o processo com a narina 2. 
Desinfeta e alivia sintomas de entupimento. A descrição pode assustar, mas se eu (que sou impressionável com essas coisas) consigo fazê-lo, qualquer pessoa consegue. Simples, barato e eficaz! 
Aí está a minha companheira de viagem. Numa loja chinesa, custou menos de 1€.
2. Vestuário e acessórios – Já estive em Bissau na estação das chuvas (maio/junho, agosto/setembro e setembro/outubro) e na estação seca (janeiro).
Nas quatro vezes, optei pelo trio t-shirt-calções-sandálias e senti-me sempre confortável.
Na estação seca, faz fresco durante a noite e de manhã até por volta das 9h00, pelo que é aconselhável, para pessoas mais sensíveis, levar um casaquinho e umas calças (tecidos leves). Roupa e peúgas, sempre 100% algodão.
Na estação das chuvas, umas botas leves e impermeáveis (nunca de plástico ou borracha), são uma boa opção. Comprei as minhas na Decathlon. Embora quando caem chuvadas tropicais, não haja nada que lhes resista, um pequeno guarda-chuva mais ou menos robusto será sempre útil. Capas para a chuva são difíceis de suportar naquele calor húmido e abafado.
Seja qual for a estação, leve sempre uns bons óculos de sol, um chapéu de pano transpirável para proteger a cabeça e protetor sol.
3. Lanterna – Sendo frequentes os cortes de eletricidade, mesmo em Bissau, é importante levar na bagagem uma lanterna.
Encontrei esta  na Decathlon. É pequena, dá boa luz e não precisa de pilhas, bastando dar à manivela para a carregar.
4. Minigeleira e miniacumulador de frio – É muito mais leve do que um termo e permite lá colocar 2 a 3 garrafas de água pequenas.
5. Cabides – Além de servirem para pôr a roupa no roupeiro, são ótimos para pôr a secar a roupa que se for lavando.
6. Sabão azul e branco – Dá para lavar a roupa e também a louça.
7. Um saco com detergente em pó para lavar à mão.
8. Uma pequena extensão com três “tomadas”.
9. Molas e uma corda fina e resistente para improvisar um estendal.
10. Uma microcoluna de som para ligar ao telemóvel e ouvir rádio.
11. Um conjunto (tudo de plástico) de garfo, faca, colher, um prato resistente e um copo (dá para bebidas e fazer café) permite comer em trânsito se for necessário.

12. Sugestões a seguir/adaptar em função do tempo que vai ficar na Guiné e condições de alojamento e espaço disponível na(s) mala(s) de viagem:
»Há nos supermercados e estabelecimentos chineses caixas de plástico resistentes de diferentes dimensões e com tampa que dão para encaixar na mala de viagem e proteger coisas frágeis ou com líquidos.
»Um pequeno tacho leve e antiaderente pode servir de panela e de frigideira. Permite também ferver água.
»Um pequeno jarro elétrico será muito útil para ferver água para fazer café, chá ou pratos instantâneos como cuscuz ou noodles. E também para fazer a barba.
Ingredientes para uma refeição rápida: água a ferver sobre os noodles, esperar uns minutos e já está!
»A parte da mandolina que corta às fatias, um pequeno ralador, um descascador e uma pequena faca são ajudas preciosas para preparar saladas.
Mais uma equipa de apoio ao viajante-voluntário!
»Produtos para refeições rápidas de que pode levar um pouco de cada: arroz, massa, cuscuz, bulgur, cogumelos secos, tomate seco, um frasco de vidro de cogumelos de conserva (o frasco dará para acondicionar uma compota).
Ingredientes leves que permitem confecionar refeições rápidas e muito saborosas.
»Latas de atum (ou filetes de atum) em azeite ou outras conservas que aprecie. A gordura da conserva dá para temperar o acompanhamento (mandioca, batata-doce, abóbora, inhame…). Se vai ter condições para cozinhar, também levar, devidamente protegida, uma garrafa de azeite e/ou um frasco de óleo de coco.
.Pequenas latas de vegetais em conserva: grão, feijão, lentilhas, beterraba, feijão-verde, ervilhas, milho, cenoura…

»Para não ter de fazer compras nos primeiros dias, pode levar uma embalagem pequena de pão de forma integral fatiado (embalagem de longa duração) e alguns vegetais frescos: cebola, beterraba, nabo, cenoura, pepino.
 »Café solúvel (retirar do frasco e pôr num saquinho reduz o peso na bagagem) e pacotinhos de chá.
»Para confortar o estômago ou para uma fomeca inesperasa, pode levar umas bolachas de aveia e uns frutos secos ou desidratados que aprecie: amêndoas, nozes, damascos, figos, tâmaras...
»Uma opção interessante para quem tem de confecionar o pequeno-almoço é o cappuccino. Não precisa de água nem açúcar, é só juntar água a ferver! O do Continente tem um sabor agradável e não é muito doce.

»Um pouco de açúcar amarelo e uns paus de canela para improvisar uma compota: 1. Limpa-se a fruta (de cascas e sementes), pica-se ou rala-se e põe-se no tacho antiaderente anteriormente referido. 2. Junta-se o açúcar (metade do volume da fruta) e um pau de canela. 3. Deixa-se apurar em lume baixo durante cerca de 40 minutos em lume baixo. 4. Depois de arrefecer, coloque num frasco e guarde no frigorífico, dado que tem muito menos açúcar do que é habitual.
»Alguns temperos (tudo em saquinhos pequenos para reduzir o peso): sal, orégãos, alho em pó, gengibre em pó, salsa e coentros secos, cominhos, etc.
»Se ainda tiver espaço, não se esqueça de levar umas músicas na pen, um caderninho, lápis, borracha, apara-lápis, esferográfica, corretor, uma régua pequena e fita-cola.

T de…
TABANCA – Termo importado do crioulo que significa “povoação, aldeia”.
TABASKI – A maior festa para os muçulmanos do país. Descrição que fiz da celebração de 2016 AQUI
TECELÃO – Quando se viaja para fora de Bissau, é possível ver junto às estradas os ninhos dos teceleões nas palmeiras. Imagens interessantes, dignas do National Geographic. Leia a reportagem que fiz com fotos e vídeo AQUI.

TELEMÓVEL – Para quem não quer ficar arruinado, convém levar um telemóvel desbloqueado e comprar um cartão em Bissau. É necessário apresentar uma fotocópia do passaporte, pelo que pode levá-la de cá. No sítio onde comprar o cartão, se pedir, o funcionário ativa-o no momento. Depois, é só comprar saldo. Usei a rede Orange.
TRANSPORTES
1. Táxi – Do aeroporto para Bissau, poderá encontrar táxis azuis e brancos que prontamente se oferecem para realizar o transporte até à cidade, mesmo quando se trata de voos noturnos. A tarifa não é fixa mas deverá variar entre os 3 000 Francos CFA (durante o dia) até aos 5 000 Francos CFA (à noite) com bagagem incluída.
Para as viagens dentro de Bissau, como não há taxímetros, deverá negociar o preço antes do início da viagem. Chama-se a atenção para o facto de os táxis serem coletivos, isto é, apanham e largam passageiros onde estes se encontrarem ou quiserem sair. Também estão frequentemente em mau estado. Conforme os trajetos, os preços variam entre os 250 Francos CFA e os 1000 Francos CFA. Uma solução para quem não tem transporte próprio durante a estadia é combinar com um taxista o preço ao dia para os circuitos que desejar fazer ou ter um contacto fixo para efetuar deslocações noturnas.
2. Toca-toca – É a forma mais económica de viajar em Bissau e para as localidades circundantes. É uma carrinha com capacidade para 20 passageiros (por vezes vai bem mais cheia) em que as pessoas pedem para sair ou entrar. A tarifa oficial fixa é de 100 Francos CFA por trajeto.
3. Autocarro – Para se deslocar de Bissau para outras cidades ou regiões do país, pode optar pelo serviço de transporte coletivo que se apanha junto do Ledger Plaza Hotel Bissau, na estrada que liga o aeroporto à cidade de Bissau. Estes autocarros vão parando nas diversas cidades até chegarem ao seu destino final e os preços (acessíveis) variam conforme a distância.
4. “Sept places” – É um meio de transporte alternativo para se deslocar até outras cidades ou regiões do país e, como o próprio nome indica, é um carro de 7 lugares que habitualmente só sai quando tem os 7 passageiros. É uma opção para se deslocar até Ziguinchor ou Dakar.
5. “Candonga” – Carrinha com capacidade para 20 pessoas que faz as viagens inter-regiões. Nestas viaturas, pouco seguras, transporta-se um pouco de tudo: pessoas, fruta, equipamentos para casa, mobiliários, vacas, cabras, etc.
6. Alugar um carro – Pode ser uma opção, preferencialmente com condutor, pois há falta de placas indicativas em todo o país e dificuldade em obter muitas vezes informação sobre a direção a tomar junto das populações locais. Só em Bissau e na estrada para Farim se pode falar da existência de indicações claras. A atenção deve ser redobrada nas estradas da Guiné-Bissau, pois é muito frequente estas serem atravessadas por cabras, galinhas, vacas ou porcos, o que pode provocar acidentes.
7. Transportes marítimos Para se deslocar até às Ilhas Bijagós tem dois barcos de carreira, que normalmente saem de Bissau com destino a Bubaque e a Bolama e regressam ao domingo. As horas de partida e chegada são variáveis em função das marés pelo que se aconselha uma passagem pelo porto na véspera onde normalmente é afixado um papel com o destino e horário de saída do barco. Estes barcos propõem dois tipos de bilhetes - o normal e o VIP. Recomenda-se este último pois a diferença de preço não é muita e sempre se viaja com mais conforto numa viagem que pode por vezes demorar mais horas que o previsto.
Uma outra alternativa, existente mas que é do nosso ponto de vista pouco recomendável pela perigosidade que representa, é recorrer às canoas e pirogas motorizadas que fazem a ligação a estas e outras ilhas com percursos, durações e frequências variáveis e adaptáveis ao desejo dos passageiros. Por fim, também há pequenos barcos particulares no porto que poderão ser alugados por preço a combinar, aconselháveis para grupos grandes. Estes barcos estão dotados de rádio e coletes salva-vidas para todos os passageiros.

U de…

V de…
VACINAS – Impõe-se uma ida à consulta do viajante. Sendo muito concorrida, convém marcá-la com um a dois meses de antecedência.
Centros de vacinação (todo o país) AQUI.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante (SPMV), é obrigatória a vacina para a Febre Amarela, bem como o Certificado Internacional de Vacinação, e são de considerar as seguintes vacinas: Hepatite A, Hepatite B, Febre Tifoide, Tétano, Cólera, Difteria, Raiva e Meningite meningocócica.
VISTOS E PASSAPORTES – O visto é obrigatório e deve ser solicitado na Embaixada ou Consulado da Guiné-Bissau mais próximo do ponto de origem. Para isso é necessário o preenchimento de um formulário e entrega de uma foto. É exigido que o passaporte tenha uma validade superior a seis meses.
Convém entrar em contacto com a Embaixada da Guiné-Bissau em Lisboa:
Telefone: (+351) 213 009 081/Morada: Rua de Alcolena, 17-A 1400-004 Lisboa.

W de…

X de…

Y de…

Z de…
ZICA – Com alguns casos confirmados em 2016, a Guiné-Bissau não é uma zona de risco em relação a este vírus. De qualquer modo, como acontece em relação à malária, a melhor prevenção é tentar evitar as picadas dos mosquitos.

29/03/18

Guiné-Bissau: informações e dicas (parte III)

Terceira etapa da visita guiada à Guiné-Bissau. Paragens: letras I a P!
Em 2016, pouco antes de aterrar, a primeira imagem de Bissau: o rio Geba como uma imensa serpente a deslizar na planície inundada pelas chuvas de agosto...

I de…
INDEPENDÊNCIA – A Guiné-Bissau foi a primeira colónia a ver a sua independência reconhecida por Portugal, em setembro de 1974.
O poder foi passado ao Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), um movimento independentista fundado em 1956 e liderado por Amílcar Cabral até ao seu assassinato em janeiro de 1973.
Já em setembro de 1973 o PAIGC tinha declarado, de forma unilateral, a independência do país, reconhecida por cerca de 80 países.
Vídeo da RTP sobre o assunto AQUI
INTERNET – Mesmo em Bissau a internet é muito lenta e cai com frequência. Na minha primeira missão em setembro de 2016, em Bissau, houve um apagão de internet que durou uma semana.
Fora de Bissau, é quase uma miragem…

J de…
JAGUDI – É nome em crioulo dos abutres que, com surpresa para quem vem de fora, sobrevoam continuamente a cidade de Bissau.

K de…
KA TEM! Ao contrário do que possa parecer, pela sonoridade, a expressão significa que não há. Quando um vendedor diz “ká tem”, quer dizer que ele não tem o que estamos pedir-lhe.
KEBRA-MOLAS – As estradas que ligam Bissau a outras localidades estão em mau estado, com muitos buracos. Para complicar mais a vida de quem conduz, há em várias delas lombas de cimento não assinaladas, pondo em risco a segurança. Às vezes, há pneus na berma junto às lombas. Uma vez, encontrámos com uma informação-aviso surpreendente: “kebra-molas”. Soubemos depois que é assim que as lombas são conhecidas…

L de…
LARANJAS – De casca verde e menos doces do que as que comemos em Portugal, são uma boa fonte de hidratação. Uma vez um amigo trouxe-me toranjas que lhe tinham oferecido numa tabanca: muito sumarentas, doces e sem aquele travo amargo característico.
LÍNGUAS – Embora seja a língua oficial, apenas cerca de 11% da população fala português. O crioulo é a verdadeira língua franca do país, falada por mais de 90% da população. Enquanto o português é usado nas instituições públicas, nos documentos oficiais e na escola, o crioulo é a língua que todos usam em casa, com os amigos e na rua.
Há ainda a registar a existência de 22 línguas étnicas (algumas em vias de extinção), sendo, por ordem decrescente, estas as mais utilizadas: fula, balanta, mandinga, manjaco e papel.

M de…
MAIMUNA – Este é o nome de uma jovem guineense que costuma ir vender vegetais e frutos à embaixada de Portugal. Vale a pena procurá-la, pois os seus produtos são de qualidade. Ao longo da rua situada nas traseiras do hotel Ancar, há vários vendedores. Basta perguntar-lhes onde fica a banca da Maimuna.
MALÁRIA – A malária mata em todo o mundo 5 pessoas por minuto. Na Guiné-Bissau, morre-se (e muito!) de malária, pelo que a profilaxia (sempre com receita médica) é vivamente aconselhada. Costumo optar pela marca “Mephaquin”, por os comprimidos serem mais baratos e práticos, pois a toma (que se inicia uma semana antes da partida e se prolonga por mais três após o regresso) ocorre apenas uma vez por semana.
No sítio da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante, fazem-se as seguintes recomendações:
A malária, também chamada por paludismo, é uma doença parasitária transmitida por mosquitos e é endémica em vários países tropicais. É uma doença potencialmente fatal se não tratada atempadamente.
1. É imprescindível a prevenção de picada de mosquitos, através do uso de repelentes, vestuário adequado e redes mosquiteiras.
2. Poderá ser necessária a prevenção das formas da doença através da toma de medicação.
3. Após ou durante viagem para zona de risco de Malária, manifestando sintomas sugestivos da doença (febre é sempre, e até prova em contrário, malária) deverá procurar apoio médico e realizar o teste diagnóstico (teste rápido e gota espessa). Deverá sempre informar o seu Médico da sua viagem.
MANCARRA – É nome que se dá ao amendoim. Vem do termo crioulo (tanto da Guiné-Bissau como de Cabo Verde) mancara, com um só r, pois no crioulo não há consoantes duplas. A palavra entrou no português e já está dicionarizada.
MASSACRE DE PIDJIGUITI – Na sequência de uma greve, no dia 3 de agosto de 1959, dos trabalhadores do porto de Bissau, em que estivadores e marinheiros reivindicavam um aumento salarial, houve uma resposta violenta das autoridades coloniais. Resultado: cerca de 50 mortos e uma centena de feridos. A data do massacre foi transformada num dos momentos da luta de libertação da Guiné-Bissau. À entrada do porto (lado esquerdo), há um pequeno monumento alusivo ao massacre.
MOEDA – A moeda local é o franco CFA, com câmbio fixo relativamente ao euro (1 euro = 655,957 francos CFA). Existem apenas duas caixas ATM com sistema Visa em Bissau e o seu funcionamento é incerto. Não existe rede de pagamentos multibanco. As despesas são pagas em dinheiro, pois não existem sistemas de pagamento com cartão de crédito ou multibanco. É possível trocar dinheiro junto dos bancos ou no sistema informal. Dica para fazer o câmbio:
Divide-se por 1000 (basta recuar 3 casas) e multiplica-se por 1,5. Exemplos:
500 fr = 0,75€  / 1000 fr = 1,5€  / 5000 fr = 7,5€  / 25 000 = 37,5€   / 40 000 fr = 60€
MERCADOS – O mais conhecido é o Mercado do Bandim, com quilómetros de extensão ao longo e a partir da Avenida Combatentes da Liberdade da Pátria. Mais convencional, o Mercado Central, junto ao hotel Ancar, merece uma visita.
MOSQUITOS – Para prevenir as picadas, deverá utilizar mosquiteiros, roupas que protejam pernas e braços e usar repelente, não esquecendo os pés, principalmente ao nascer do dia e ao início da noite.

N de…
NOMES A RETER
Amílcar Cabral (1924-1973) – Foi poeta, agrónomo, fundador do PAIGC e “pai” da independência conjunta de Cabo Verde e Guiné-Bissau. Foi Assassinado 1973. Para saber mais, clique AQUI.
José Carlos Schwarz (1949-1977) – Foi poeta e músico da Guiné-Bissau, amplamente reconhecido como um dos mais importantes e notáveis músicos da Guiné-Bissau. Escreveu em português e francês, mas cantava em crioulo.
Para saber mais, clique AQUI
Veja e ouça uma das suas canções conhecidas AQUI.
Karina Gomes – Um dos mais importantes nomes da música guineense na atualidade. Saiba mais sobre ela AQUI e ouça o sucesso "Amor Livre" AQUI
Vasco Cabral (1926-2005) – Poeta guineense lutador pela independência e um dos líderes do PAIGC. Para saber mais sobre a vida e obra, com destaque para o magnífico poema “Esperança”, clique AQUI

O de…
ÓLEO DE PALMA – Exibindo um cor de laranja vivo, é um dos produtos interessantes que vai encontrar na Guiné. De produção artesanal e com sabor suave, entra em várias receitas guineenses.

P de…
PANOS – Um dos produtos típicos da Guiné-Bissau são os panos coloridos. Entre eles, destaca-se o tradicional pano de penteobjeto de grande significado para a etnia Papel, intervém em todas as etapas da sua vida e é um objeto sagrado. Quantos mais panos se arrecada em vida mais rico se é”. (http://www.independenciaslusa.info/arquivo-fotos-panos-de-pente-transformaram-se-em-destino-turistico/)
O pano de pente, de tear artesanal, tem uma grande importância social e cultural na Guiné-Bissau. A tecelagem guineense é uma tradição bem antiga e a versatilidade dos panos de pente não a deixam cair em desuso.
Devido ao seu valor patrimonial no seio dos guineenses os panos de pente são usados em várias ocasiões de grande significado para o país, passando pela política, moda, cerimónias fúnebres, casamentos tradicionais e decoração.
Apesar de ser um produto bastante dispendioso, devido a importação do algodão, está sempre presente nos rituais guineenses. (http://panodepenteguineense.weebly.com/)
PEPINOS – Mais curtos e bojudos dos que os que costumamos consumir em Portugal, são muito tenros e saborosos.
PRATOS GUINEENSES – A cozinha tradicional guineense não nos deixa indiferentes pela palete de sabores, aromas, ingredientes e cores que usa. Uma cozinha simples mas surpreendente, resultante do cruzamento da cultura gastronómica ancestral africana - com produtos da terra como legumes ou fruta que só ali encontramos - com matizes da cozinha tradicional portuguesa.
As ostras são abundantes na Guiné-Bissau e convidam a um bom convívio. Os camarões de Farim são outra iguaria a não perder.
A lima, a malagueta, o óleo de palma ou a mancarra (amendoim) estão sempre presentes na cozinha guineense caracterizada por sabores intensos e condimentados. A acompanhar, encontramos invariavelmente o arroz. Os peixes como a bica são muito apreciados e normalmente comem-se grelhados com um molho feito à base de cebola, limão e malagueta. E claro, arroz!
De referir que há etnias que comem macaco, o que constitui uma verdadeira ameaça para algumas espécies, e a etnia Papel come cão.
Alguns pratos representativos da gastronomia guineense:
1. Sigá – ingredientes principais: quiabos, camarões (ou peixe ou carne), djagatu, óleo de palma. Receitas AQUI e AQUI.
2. Caldo de chabéu – ingredientes principais: chabéu (fruto alaranjado da palmeira), mandioca, djagatu, carne ou peixe.
3. Caldo branco – ingredientes principais: peixe, limão, alho, tomate.
4. Caldo de mancarra – ingredientes principais: frango, pasta de amendoim, tomate, limão, óleo de palma, malagueta. Deixo-vos a minha receita  de caldo de mancarra AQUI.
5. Caldo de peixe – ingredientes principais: peixes variados, óleo de palma, alho, cebola, arroz.
6. pitche-patche de ostras - ingredientes principais: ostras, arroz, tomate, limão.
Receita AQUI.
7. Cafriela – galinha da terra ou carneiro grelhados com molho de limão, malagueta e cebola.
8. Camarões à guineense – ingredientes principais: camarão, pepino, piripiri. Receita AQUI.
9. Abacate recheado com atum – ingredientes principais: abacate, atum, limão, natas, coco. Receita AQUI.
10. Frango com baguitche - ingredientes principais: frango, baguitche (ou espinafres), alho, óleo de palma, limão. Receita AQUI.
11. Tieboudienne (de influência senegalesa) – guisado de peixe, com arroz e legumes.
12. Poportada – Prato preparado em base de farinha de arroz. O ingrediente principal é a carne de porco salgado.
13. Katore – prato típico dos Bijagós feito com peixe cozido misturado com óleo de palma.
PROVÉRBIOS CRIOULOS - Clique AQUI.

Guiné-Bissau: informações e dicas (parte I): AQUI
Guiné-Bissau: informações e dicas (parte II): AQUI

Moamba vegetariana com funge!

Hoje ao jantar!


Ingredientes para 5 a 6 doses:
.200 g de cogumelos de Paris inteiros (dos mais pequenos)
.200 g de cogumelos pleurotus cortados em tiras com dois dedos de largura.
.1 beringela cortada em cubos pequenos
.1 tomate picado (sem pele nem sementes)
.2 colheres de sopa de azeite
.2 colheres de sopa de óleo de palma
.12 quiabos tenros
.3 dentes de alho esmagados em puré
.1 folha de louro
.1 malagueta (sem sementes se quiser uma moamba mais suave)
.sal e pimenta preta moída no momento
.200 g de farinha de mandioca
.100 g de farinha de trigo (como não tinha, usei de cevada integral e ficou excelente)
Nota: Comprei a farinha de cevada no Celeiro (rende bastante e não é cara).

Preparação:
A. FUNGE
1. Misture as duas farinhas e peneire-as.
2. Misture cerca de ¼ da farinha em água fria.
3. Junte água a ferver e vá juntando a farinha, mexendo sempre.
4. Tempere com um pouco de sal e bata bem o preparado até ficar com a textura desejada e sem grumos e reserve.

B. MOAMBA
1. Num tacho, estufe os alhos no azeite e junte os cogumelos.
2. Polvilhe com uma pitada de sal e outra de pimenta e deixe apurar em lume médio durante cerca de 15 minutos, mexendo de vez em quando.
3. Numa frigideira, estufe a cebola no óleo de palma com o louro e junte aos cogumelos.
4. Adicione a beringela, o tomate, a malagueta e um pouco de sal e cubra com água quente.
5. Tape o tacho e, quando começar a ferver, deixe apurar durante 20 minutos.
6. Junte os quiabos e, passados 5 minutos, desligue o lume e deixe repousar mais 5 minutos.
7. Sirva a moamba com uma boa dose de funge e delicie-se!

Bom apetite!
ChefAntónio

28/03/18

Guiné-Bissau: informações e dicas (parte II)

Mais uma etapa nesta visita guiada à Guiné-Bissau. Paragens: letras D a H!

D de…
DJAGATUÉ um vegetal muito apreciado da família da beringela. Faz lembrar o jiló, que deve ter sido levado para o Brasil pelos escravos africanos traficados desde o século XVI (até meados do século XIX), uma vez que a palavra tem origem no quimbundo njilu.
Com um sabor ligeiramente amargo (ou se ama ou se odeia), entra em muitas receitas tradicionais.
Não adoro, mas como sem grande sacrifício. Fica o menos bem que sabe pelo bem que faz, pois é muito rico em vitaminas (A, C, Complexo B) e sais minerais como cálcio, magnésio, ferro, fósforo e potássio.
Djagatu
E de…
ECONOMIA – Pelo que li nalguns relatórios de 2017, a única fonte relevante de receitas da Guiné é o caju. No entanto, o país tem condições para se afirmar noutras áreas: turismo, pescas e produção de arroz são alguns exemplos.
Documento do Banco Mundial: AQUI.
ÉDER – O marcador do golo que deu a Portugal o título de campeões da Europa está no nosso coração e é guineense de nascimento.
ELETRICIDADE – Irregular, falha frequentemente, mesmo em Bissau.
ETNIAS – Existem entre 27 e 40 grupos étnicos. As etnias com maior expressão na Guiné-Bissau, segundo os censos de 2009, são: a Fula (28,5%), que vive essencialmente no leste do país (Gabú e Bafatá), seguida da etnia Balanta (22,5% da população) que se encontra principalmente nas regiões sul (Catió) e norte (Oio), a Mandinga com 14,7%, no norte do país, a Papel com 9,1% e a Manjaca com 8,3%. Com expressão mais reduzida encontramos ainda as etnias Beafada (3,5%), Mancanha (3,1%), Bijagó (como o próprio nome indica, vive no Arquipélago dos Bijagós e representa 2,15% da população total), Felupe com 1,7%, Mansoanca (1,4%) ou Balanta Mane com 1%. As etnias Nalu, Saracole e Sosso representam menos de 1% da população guineense e 2,2% assume não pertencer a qualquer etnia. A sua distribuição geográfica tem razões históricas mas também se relaciona intimamente com as atividades tradicionalmente praticadas por cada uma delas. Os Balantas, os Manjacos, os Mancanhas e os Papéis encontram-se predominantemente nas zonas costeiras e cultivam o arroz nas bolanhas. Os Papéis são os grandes produtores de caju, uma das maiores fontes da economia nacional. Por sua vez os Fulas dedicam-se essencialmente ao comércio e à criação de animais. Os Bijagós são pescadores por excelência, já os Mandingas trabalham principalmente no comércio e na agricultura.

F de…
FORA DE BISSAU – Algumas sugestões:
1. BafatáAQUI.
2. Biombo: AQUI. 
3. Bolama/Bijagós: AQUI
Excelente artigo da revista Visão (“Venha daí conhecer Bijagós, o último segredo do Atlântico”): AQUI.
4. Cacheu: AQUI.
5. Gabú: AQUI
6. Nhacra – A menos de uma hora de Bissau, tem um mercado aos sábados de manhã que vale a pena visitar.
7. Oio: AQUI.
8. Quinara: AQUI
9. Quinhamel – A menos de uma hora de Bissau, esta bonita vila merece uma visita. É um dos locais onde se podem provar as famosas ostras assadas no forno. Diz-se que são as maiores ostras do mundo.
10. Saltinho (rápidos): AQUI.
11. Tombalí: AQUI.
FRUTOS DA GUINÉ – Além das bananas, sempre disponíveis, podemos encontrar, em função da época do ano, mangas (as melhores que já comi: grandes, pequenas, de polpa amarela ou laranja…), papaias (em geral, grandes), ananases (uma delícia), peras-abacates, os melhores maracujás que já comi (escolher os mais rosados). O caju seco (castanha), mas também fresco (o figo), que dá para fazer um bife vegetariano muito interessante. O amendoim (mancarra), também sempre disponível, é muito saboroso. Mais miúdo que o de cá, vende-se seco em saquinhos sem casca, mas também cozido (nesse caso, com casca). Nunca tinha provado amendoim cozido, mas achei o sabor interessante. Um punhado deles e uma banana fazem um lanche exótico e saciante.

G de…
GIN – Dizem que o melhor gin de Bissau é servido no bar “A Garagem”, num ambiente descontraído e agradável num sítio discreto no centro da cidade. Gostei, mas a minha opinião é pouco relevante, pois foi a primeira vez que bebi gin...
GUINÉ-BISSAU – A Guiné-Bissau tem uma superfície de 36120 km2 e cerca de 1 700 000 habitantes de composição multiétnica.
A cidade de Bissau tem cerca de 450 000 habitantes. As outras cidades importantes são Bafatá, Gabú, Mansoa, Cacheu, Bolama, Bubaque, Canchungo e São Domingos.
O território é essencialmente plano, pantanoso na orla marítima e atravessado por vários rios e cursos de água, com vegetação exuberante de tipo tropical. A altitude máxima é de cerca de 300 m (colinas do Boé) junto à fronteira leste com a Guiné-Conacri. O outro país com que faz fronteira é o Senegal. 
GUINEENSES – Simpáticos, de sorriso fácil e com sentido de humor. Apesar das dificuldades e crise política sem solução à vista, têm orgulho de ser guineenses e, com muito otimismo, acreditam num futuro melhor.

H de…
HIDRATAÇÃO – Num clima e húmido, impõe-se andar sempre com água à mão e comer fruta com regularidade. Hidrata e regula o trânsito intestinal.
HISTÓRIAS VIVIDAS NA GUINÉ-BISSAU
1. Aventura em Cumeré: AQUI.
2. História do gin tónico: AQUI.
3. O chichi: AQUI.
4. Histórias de bodes e de cabras: AQUI
5. O assalto: AQUI.
6. Animais de estimação: AQUI.
7. A distração-mor: AQUI.
8. A Edite e a Rosário ao volante: AQUI.
9. Crenças, superstições… e cabras! AQUI.
10. Retrato da estação seca: AQUI
11. Corpo e alma de Bissau: AQUI.
12. Compota de manga: AQUI.
13. Os alunos: AQUI.
14. Cartazes e erros em Bissau! AQUI.
15. Um sábado especial! AQUI.
16. Odisseia de um livro! AQUI.
17. Relação professor-aluno: emoções sempre à espreita… AQUI.
18. Excelente sobremesa de papaia! AQUI.
19. Na natureza nada se perde… AQUI.
HOTEL COIMBRA Situado próximo do porto, tem um self-service interessante e não é muito dispendioso (além de muitas saladas, há sempre um prato vegetariano). Entre as muitas sobremesas disponíveis, aconselho associação de pedaços de manga fresca com doce de manga (confecionado no hotel). Além disso, o hotel tem a única livraria de Bissau, onde há uma pequena zona de livros de autores guineenses.

Guiné-Bissau: informações e dicas (parte I): AQUI.