27/03/18

Guiné-Bissau: informações e dicas (parte I)

Tendo estado quatro vezes em missões de trabalho e de voluntariado na Guiné-Bissau, de vez em quando, pedem-me informações e dicas. Para que seja mais fácil a partilha, inicio hoje a divulgação deste guia elaborado com base nos registos no meu caderninho das viagens, nas vivências no terreno e algumas pesquisas que fui fazendo desde 2016. 
Sugestões e eventuais correções serão bem-vindas. 
É hora de apertar o cinto e descolar para a primeira etapa desta viagem intercontinental com três escalas: letras A, B e C.

Guiné-Bissau: manual de sobrivência
de A a Zica!

A de…
ÁGUA – Na Guiné-Bissau, deve consumir apenas água engarrafada (evitar os saquinhos de água supostamente desinfetada que se vendem nas ruas) e nunca beber água das torneiras ou fontes públicas.
Dicas SOS:
1. Ferver a água durante 5 minutos (contados a partir do momento em que a fervura começa). Para melhorar o sabor pode juntar uma ou duas gotas de sumo de limão no copo.
2. Usar pastilhas desinfetantes seguindo as instruções da embalagem ou, não tendo pastilhas, juntar duas gotas de lixívia por litro de água e deixe atuar durante 30 minutos.
ARROZ – Usado como acompanhamento, é a base principal da alimentação dos guineenses e acompanha todos os pratos.
ARTESANATO – Poderá ser encontrado no Mercado dos Coqueiros o mercado artesanal, provisoriamente instalado na Avenida Pansau na Isna, também no Centro Artístico Juvenil que fica na estrada que liga Bissau ao Aeroporto, junto da Chapa, onde os jovens trabalham a madeira à nossa vista e as peças são todas originais e numeradas. Para quem procurar artesanato de todo o país, a loja “Cabaz di Terra” tem uma grande variedade de artesanato guineense e fica em Bissau velho, junto do Forte da Amura. Ao lado da Catedral, há também artesanato à venda na rua mas parte dele acaba por ser de origem senegalesa e de outros países africanos.
AVENIDA COMBATENTES DA LIBERDADE DA PÁTRIASe não a maior, é seguramente uma das maiores avenidas de Bissau, ligando, com os seus 7,5 km de comprimento, o Aeroporto Osvaldo Vieira ao coração da cidade.

B de…
BAGABAGA – A bagabaga é uma formiga-branca da família das térmites que marca a paisagem da Guiné-Bissau com as suas catedrais de barro cor de tijolo que podem atingir vários metros de altura. Veem-se sobretudo quando se sai de Bissau, mas também existem na capital e tentam “montar a tenda” nos locais mais improváveis.
Ver artigo “No reino da bagabaga!” AQUI
Foto tirada a caminho de Cumeré
BAGUITCHE – Designação em crioulo do hibisco (de uma espécie diferente da que temos em Portugal). Das folhas faz-se uma pasta com quiabos (a que se chama baguitche também) que se come a acompanhar o arroz (com peixe frito ou grelhado). Apesar do aspeto viscoso que tem, gostei muito do sabor e fiquei fã. Com as flores, faz-se uma ótima infusão refrescante a que se chama ondjo.
BANANAS – Encontrei duas espécies: uma a fazer a lembrar a banana da Madeira e outra, também pequena mas mais bojuda, que me pareceu ser banana-maçã. Uma e outra são excelentes complementos para qualquer refeição.
BEBIDAS GUINEENSES – Os chamados “sumos naturais” são muito populares. São bebidas feitas a partir de produtos locais, logo, sustentáveis. Apesar do senão da quantidade de açúcar que lhes é adicionada, são interessantes em relação aos nutrientes e muito refrescantes. Eis a lista dos que encontrei (e provei!):
1. Cabaceira - Resulta da reidratação do fruto do embondeiro (chamam cabaceira tanto à arvore como ao fruto), que é conservado seco.
2. Ondjo – Faz-se a partir da infusão das flores vermelhas de uma espécie de hibisco (diferente do que temos nos jardins em Portugal). Também se vende cá em ervanárias e nos supermercados. No Jumbo, vende-se a peso. Junta-se uma colher de sopa bem cheia de flores por chávena e, quando começar a ferver, desliga-se o lume e deixa-se arrefecer. Pode beber-se frio ou à temperatura ambiente. Uma versão mais sofisticada, que provei num restaurante em Bissau, é juntar à infusão (por chávena) uma colher de chá de menta ou hortelã (fresca ou seca).
3. Veludo – Fruto (pareceu-me ser a semente, não tenho a certeza) alaranjado que é posto de molho e espremido (são-lhe atribuídas características medicinais).
4. Farroba – Fruto (semente?) da árvore com o mesmo nome posto de molho e espremido.
5. Mandiple – Feito com um fruto fresco amarelo (proveniente de um arbusto com o mesmo nome).
6. Fole - Feito também com um fruto fresco amarelo, mas mais pequeno do que o mandiple (proveniente de uma árvore trepadeira com o mesmo nome).
7. Tamarindo (o meu preferido) – Faz-se a maceração em água do conteúdo das vagens secas, retirando as sementes. No restaurante La Rosa (próximo do hotel Ancar) é servido sem açúcar, cabendo ao cliente a tarefa de o adoçar a gosto.
BISSAU – Antes de partir para Bissau, leia esta entrevista a Fernando Peixeiro, jornalista da Lusa, que lá vive há quase três anos: “Bissau por quem lá vive: Fernando Peixeiro” AQUI
Hotéis e restaurantes em Bissau: AQUI. 
BOLANHA – Grande terreno pantanoso, geralmente perto de um rio, onde se cultiva ou se pode cultivar arroz.

C de…
CAJU – Produzido de forma artesanal, dizem que é dos melhores do mundo. É a principal fonte de riqueza da Guiné (que é 5.º produtor mundial). No entanto, o incentivo oficial à produção está a contribuir para a destruição da floresta, havendo zonas já totalmente submetidas à monocultura do cajueiro.
CARACÓIS – Enormes, irá provavelmente cruzar-se com eles na estação das chuvas. Vi a mesma espécie em São Tomé. Lá chamam-lhe “búzios da terra” e consomem-nos em espetadas grelhadas (que provei, mas não apreciei). Na Guiné, fiquei com a ideia de que não são consumidos.
Após uma chuvada, junto ao hotel Azalai.
CARNAVAL – O Carnaval é a maior festa popular e cultural de grande tradição na Guiné-Bissau e, muito particularmente, em Bissau. A vida da cidade paralisa durante três dias para ver desfilar grupos de todo o país e de todas as etnias. É um fenómeno etnográfico de grande significado, em que todas as tradições mais enraizadas saem à rua para se mostrarem e desfilarem orgulhosamente nas avenidas de Bissau, participando no concurso organizado pelas autoridades locais. Há quem diga que é o melhor Carnaval de África.
CATEDRAL – Situada perto porto, logo a seguir ao hotel Coimbra, é um belo edifício, em bom estado de conservação, construído em meados do século XX.
CLIMA Predominantemente tropical com características marítimas, sendo muito quente e húmido e com duas estações distintas:
Estação das chuvas (de maio a meados de novembro): A chuva forte (sobretudo ao fim do dia e durante a noite) e a muita humidade dão corpo a uma atmosfera por vezes difícil de suportar.
Estação seca (de meados de novembro a abril): Não chove, há muito pó e os dias são quentes e ensolarados, mas as noites e o início das manhãs são frescos.
Notas:
1. Os meses mais quentes são março, abril e maio e os mais frescos, dezembro e janeiro.
2. O período mais abafado do ano vai desde março a meados de dezembro
3. A melhor altura do ano para viajar para a Guiné-Bissau é entre os meses de novembro e abril, época seca que permite circular mais facilmente pelo país. Na época das chuvas as estradas para o Sul ficam pouco transitáveis e as deslocações para o arquipélago dos Bijagós não são aconselhadas.
                                                                                                                       Bissau
Temperatura
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
mínima/máxima
22°/31°
23°/33°
24°/33°
25°/33°
Chuva
não chove
não chove
não chove
não chove

Temperatura
Maio
Junho
Julho
Agosto
mínima/máxima
26°/33°
26°/31°
26°/29°
26°/29°
Chuva
pouca
alguma
muita
muita

Temperatura
Set.
Out.
Nov.
Dez.
mínima/máxima
26°/30°
27°/31°
26°/32°
23°/31°
Chuva
muita
chove
alguma
não chove
Vídeo – depois da chuva: AQUI.
COR E MOVIMENTOBissau é uma paleta de cores! Do verde das mangueiras (a escoltar as largas avenidas coloniais) ao magnífico azul do céu, passando vestuário das pessoas que se deslocam em todas as direções.
Mercado do Bandim, na Avenida Combatentes da Liberdade da Pátria.
CRIANÇAS – Como em todos os lugares, aqui, também elas são o melhor do mundo. No entanto, apesar da sua alegria e sorriso fácil, as crianças da Guiné-Bissau não têm um percurso de vida fácil. Segundo a UNICEF, em informações divulgadas em fevereiro de 2018, a Guiné-Bissau é o pior país lusófono na taxa de mortalidade infantil, registando uma morte por cada 26 nascimentos (em termos comparativos, em Portugal, há uma morte por cada 476 nascimentos). A Guiné-Bissau é o 6.º país mais perigoso do mundo para se nascer.
CRIOULO (Ver entradas “Línguas”)
Alguns atos de fala em crioulo:
Olá tudo bem? / Kuma cu sta?
Como está? / Kuma ke bu sta?
Eu estou bem. / Ami sta dritu.
Como vai a saúde? / Kuma di kurpu?
Vai-se indo / Alin’li
Como te chamas? / Kuma que bu nome?
De onde vens? / Di nunde cu bim?
Onde fica o hospital?/Nunde ki hospital?
Preciso de ajuda. / Nmiste pa bu djudan.
Onde fica o hotel?/Nunde ki hotel?
Qual é o preço de táxi? / Taxi i cantu?
Leva-me para hotel. / Lebam pa hotel.
Onde fica a esquadra da polícia?
Nunde ki policia?
Quanto é que tenho que pagar?
Canto cun ten cu paga?
Que horas são? / Difabur contan hora?
Quer dançar? / Bu misti badja?
Vamos embora / No na bai
Não há problema / Ka tem problema

Amanhã, continuaremos a nossa viagem.
Abraço.
ProfAP

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