01/09/18

Missão Cabo Verde II - Chegada ao Mindelo!


Depois de uma aterragem sem sobressaltos 15 minutos antes do horário previsto, esperava-me um calor húmido (mas nada que se pareça com a Guiné-Bissau) e um vento fortíssimo. Seguindo o conselho que me deram, pedi o visto à entrada. O processo foi rápido e mais económico do que em Portugal (25€).
Enquanto procurava a Sueli (que me iria buscar ao aeroporto), fui interpelado por uma voz imponente: “Sênhor António!” Era o Frei Silvino, um franciscano italiano que vive em Cabo Verde há 23 anos, presidente do Espaço Jovem, organização não governamental, sem fins lucrativos, sediada no Mindelo desde 2003. A associação desenvolve uma intervenção sociocultural com a juventude da periferia da cidade, em zonas carenciadas, complicadas, onde, em tempos, nem a polícia se atrevia a entrar. A associação agrega dois espaços onde irei colaborar: Centro de Protagonismo Juvenil da Ribeira da Craquinha (perto do qual ficarei alojado a partir de amanhã com mais três voluntárias da associação “Para Onde?”) e Cooperativa Jovem da Pedra Rolada.
Depois de acondicionar todas as malas, maletas, sacos e saquinhos no carro do Frei Silvino (verdadeira peça de museu de um modelo Fiat que nunca tinha visto), lá fomos para a cidade, também na companhia do jovem cabo-verdiano Paulo, colaborador do Espaço Jovem. Numa reunião sobre rodas, apresentámo-nos (quem éramos, donde vínhamos, para onde queremos ir) e recebi vasta e útil informação sobre o Espaço Jovem. Além do voluntariado, descobrimos uma paixão comum aos três: formas de cultivo alternativo de hortas biológicas.
Cheguei ao Hotel Basic (excelente, considerando o baixo custo), na parte alta da cidade, ao início da tarde. Da janela do quarto, a vista de uma bananeira e de uma papaieira,  encostadinhas uma à outra, encheram-me a alma de verde. Um verdadeira cenário de poesia japonesa haiku:

Depois uma sesta de uma hora, um almoço no quarto que me soube divinalmente: uma daquelas massas chinesas que é só juntar água a ferver (ando sempre na mala com um pequeno jarro elétrico, comprado há muitos anos, que tem uma tripla função: confecionar refeições, fazer chá ou café e aquecer água para a barba), uma laranja da minha horta que viajou comigo e um café Delta com uma minifogaça de Alcochete, onde vive a minha mãe.
E chegou a hora de descer à cidade na minha primeira e única tarde na condição de turista... Depois de trocar alguns € por escudos de Cabo Verde (1€ = 110 esc.), serpenteei sem destino certo de olhos e alma abertos ao que viesse. De tudo o que vi, aqui ficam algumas imagens.


 Edifício do Museu do Mar (réplica da Torre de Belém)

Embora por vezes sem informação sobre as peças apresentadas e de não ser (para mim) evidente o critério seguido na organização do espaço, achei muito interessante a inclusão de vários poemas sobre o mar. No último piso, a vista sobre a cidade é magnífica!
Museu do Mar

O PESCADOR QUE SONHA E PESCA

Alma que morre com salitre
no nó da garganta
com sonhos que são
salpicos de água no anzol de luar

Morre com a carcaça no peito
e linha na mão
pescado no sonho
e… salpicos de água e sonho
nos olhos…

Bota a linha
e morre sonhando
com peito cheio de peixes e graúdos
com olhos de mulher e filhos
dinheiro e pão

E morre ainda pescando
com a linha presa na mão.
Mário Lúcio – Set. 1983
In Revista Ponto & Vírgula n.º 7-84

A cidade vista do alto do Museu do Mar 

Cheios de cor, os edifícios estão sempre prontos para a folia do Carnaval (na opinião de muitos, o mais importante de Cabo Verde)

A beleza discreta...

Numa cenário irreal a prenunciar a bênção da muita chuva que iria cair durante a noite, a ilha de Santo Antão...

Abraço.
ProfAP

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