08/09/18

Missão Cabo Verde V - Fim da primeira semana!

Monte Cara (ver a seta), um dos ex-libris da cidade do Mindelo

Aqui fica a segunda história, que as crianças ainda não conhecem. O Pablo é um colaboradores do Espaço Jovem e é mesmo assim como a personagem da história, um jovem idealista com um coração de ouro! Abraço a todos. ;)



História de uma estrela-do-mar chamada Estrelinha

Era uma vez uma estrelinha-do-mar chamada Estrelinha muito brincalhona.
Era pequenina, mas, para uma estrela-do-mar, era muito desembaraçada e corria em todas as direções no fundo do mar.
É caso para dizer que não parava quieta e, quando ela passava, todos sorriam e diziam sempre:
-- Então, Estrelinha, feliz como sempre?
-- Ya! – dizia ela enquanto mastigava as suas algas preferidas como se fossem pastilha elástica.
Estava sempre a fazer das suas. Dançava e dava cambalhotas diante da moreia Dentuça, o que era perigoso, pois a moreia, com os seus dentes enormes e aguçados, não era para brincadeiras.
Pregava sustos ao choco Malaquias que, apanhado de surpresa, lançava tinta em todas as direções.
Fazia cócegas na barriga cinzenta do atum Tonecas que não resistia e não parava de rir.
A vida da Estrelinha era sempre assim: mil e uma brincadeiras e receber carinhos e muitos beijinhos e abraços a toda a hora. Dito por outras palavras, era feliz e fazia felizes todos os que a conheciam.
Um dia em que estava a brincar às escondidas com o carapau Juvenal, a sardinha Nelita e a cavala Milu, foi apanhada na rede de um pescador.
De início, nem se apercebeu do que estava a acontecer, mas quando foi atirada para a areia da praia Laginha pelo pescador sem coração, muito triste, começou a chorar baixinho….
Chorou, chorou, chorou, mas parecia que ninguém ia ajudar a Estrelinha.
Quando tudo parecia perdido, sentiu o toque suave de uma mão a apanhá-la da areia com muito carinho.
Era o Pablo, um jovem sonhador, com um coração de ouro e um amor infinito por todos os seres vivos, plantas ou animais.
Olhou para a estrela-do-mar e disse-lhe ao ouvido:
-- Vou pôr-te já na água e vais ficar boa!
Com voz sumida, ela respondeu:
-- Obrigada, mas é demasiado tarde. O sol secou-me a pele e não posso voltar ao mar. Leva-me contigo, amigo querido, e a conchega-me contra o teu coração. Neste momento, o teu amor é o conforto de que preciso.
Pablo, com os olhos cheios de lágrimas, levantou a t-shirt amarela e, delicadamente, pôs a Estrelinha junto ao peito.
Andou sem destino pelas ruas do Mindelo, enquanto a sua nova amiga, embalada pelas batidas do coração dele (pum-pum, pum-pum, pum-pum), adormeceu profundamente.
Sentou-se num banco de jardim na Praça Nova e, vencido pelo cansaço que a tristeza sempre traz, adormeceu também.
Quando o sol foi para a caminha dormir e veio a noite escura, Pablo acordou e, instintivamente, levou a mão ao peito. Estremeceu quando se apercebeu de que a estrelinha-do-mar tinha desaparecido.
Como um louco, começou a andar de um lado para o outro e a gritar:
-- Estrelinha! Estrelinha, onde estás? Ó meu Deus, como é que fui adormecer assim. Nunca me vou perdoar! Estrelinha! Estrelinha! Estrelinha!
Quando já desesperava, ouviu uma vozinha que não sabia de onde vinha:
-- Psst, psst. Tou aqui…
-- És tu, Estrelinha? Tás onde?
-- Olha para cima. Tou aqui!
Ele olhava para cima, mas não a vendo em lado nenhum, ficou muito confuso.
-- Olha para o céu, Pablo. Vou fazer-te um sinal.
Quando olhou, ele viu uma estrelinha pequenina a piscar.
-- Mas… co… como é possível? – gaguejou ele com toda a alegria do mundo.
-- Não podia voltar ao mar, mas o teu amor por mim era tão forte que aconteceu um milagre: junto ao teu peito, transformei-me numa estrela a sério e voei para o céu. Tenho muitas companheiras de brincadeira, mas o meu melhor amigo és tu, Pablo!
E ficaram os dois ali a conversar o resto da noite. Ele de pé, sobre o banco de jardim e ela debruçada na varanda do céu.
E todas as noites era assim: conversas sem fim.
Ainda hoje, sentado no tanque de pedra, que ele próprio construiu num terreno no Vale da Lua, junto ao Monte Verde, Pablo passa as noites a falar de tudo e mais uma coisa com a Estrelinha.
E vão ser felizes para sempre!

António Pereira (6-09-2018)

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