02/02/16

Como pôde uma mestiça dirigir uma roça no Príncipe há quase 200 anos?


Como referi no artigo de ontem, Dona Maria Correia foi uma mulher poderosa que dirigiu a roça Ribeira Izé. Como é possível uma mestiça ter tal estatuto?
A fonte que citei ontem mostra que há uma razão histórica que nos permite compreender a situação.
Desde o início da colonização, havia ordens oficiais para entregarem aos povoadores escravas do lote pertencente à Fazenda Real, para que estes lhes “fizessem geração”. Um alvará do rei D. Manuel recorda como ele e, antes dele, D. João II tinham ordenado que aos que fossem para São Tomé e Príncipe (degredados ou não) se desse, a cada um, uma escrava para a ter e dela se servir, visando o povoamento. No entanto, segundo a “lei” do ventre (as crianças têm o estatuto do ventre que as gerou), filho de escrava, escravo era, pelo que foi preciso dar um segundo passo que não fora previsto na promoção das uniões mistas (que tinha inicialmente em vista assegurar apenas uma mão de obra bem integrada na ordem colonial). Dessa forma, por carta régia de 29 de Janeiro de 1515, o monarca concede a liberdade às escravas doadas aos primeiros povoadores e aos respetivos filhos.
Informação transcrita/adaptada de “MESTIÇAGEM, ESTRATÉGIAS DE CASAMENTO E PROPRIEDADE FEMININA NO ARQUIPÉLAGO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE NOS SÉCULOS XVI, XVII E XVIII”, de Arlindo Manuel Caldeira.

Abraço.

António

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