13/10/16

Voluntário na Guiné 18: animais de estimação...

Cena familiar (feliz) na cidade de Cacheu...

Como íamos estudar um artigo intitulado “Os animais de estimação fazem bem à saúde!”, pareceu-me uma boa ideia criar uma estratégia de pré-leitura. Assim, na véspera do estudo do texto, pedi aos alunos que se preparassem para participar oralmente: “Tem ou gostaria de ter animais de estimação? Quais? Porquê?”
No dia seguinte, logo no início da aula, lá foram sendo feitas as intervenções. Num certo momento, um jovem disse que já tinha tido um cão, mas não queria mais animais de estimação. Ingenuamente, quis saber porquê. Veio, nu e cru, o relato. Depois de sido apedrejado num dia, noutro dia, o animal foi mesmo levado e… comido! 
Embora chocado com o relato, tentei encontrar as palavras certas para confortar o jovem e mostrar a minha solidariedade.
Recompus-me (The show must go on…) e as apresentações prosseguiram. 
Dois ou três alunos depois, mais uma partilha. “Eu tinha um gato, mas comeram-mo!” Mais umas palavras de conforto e passámos ao orador seguinte.
Mesmo quase no fim: “Eu tinha um periquito…”. Não me contive: “Não me diga que lhe comeram o periquito!” “Não, não. Morreu.”, respondeu o aluno. Com um suspiro de alívio, saiu-me um “Ah, tava a ver…”.
Nas restantes apresentações, tudo “normal”, incluindo o caso do Braima que tem como animal de estimação um carneiro.
Lembrei-me depois que a minha mãe conta que, no início dos anos 60, os malteses (trabalhadores agrícolas oriundos do Norte), que trabalhavam, em condições miseráveis, no monte onde vivíamos, comiam todos os gatos que apanhavam a jeito…  
Tudo é relativo na vida. A sabedoria popular di-lo: "Em caso de necessidade, casa a freira com o frade."

Abraço.
António

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