Embaixada de Portugal e o Instituto Camões.
Sou irremediavelmente distraído, o que pode
ser problemático…
Último dia do curso em Bissau. O Comandante
Madureira apareceu com o Lona (Tenente do exército guineense) na
sala, mesmo quando a aula estava a terminar. Vinha à procura da minha colega
Edite, que estava fora da cidade, e ofereceu-me boleia para o Bairro da
Cooperação Portuguesa (onde eu estava alojado). Arrumei os papéis, peguei no saco de peixe fumado que uma aluna (a Mariama) me ofereceu e encaminhei-me para
a saída, parando aqui e ali para corresponder aos cumprimentos que ia recebendo.
Chegado à porta, encaminhei-me, quase sem olhar, para o jipe que ali estava
estacionado. Pareceu-me que a pintura estava mais escura e achei o fecho da
porta mais estreito. Mas nada me deteve. Abri a porta e entrei para o banco de trás.
No interior, estavam dois jovens militares que nunca tinha visto. O primeiro
sorriu e ajudou-me a pôr os papéis no banco. O outro parecia ter um ponto de
interrogação em cada olho. “Olá, tudo bem?”, disse eu. “Onde está o Comandante
Madureira?”, acrescentei. Ficaram a olhar para mim sem responder. “Mas este não
é o jipe do Comandante?”, perguntei, desconcertado. Tinham acabado de acenar
negativamente, quando ouvi o Lona gritar do lado de fora: “Professor, o nosso
jipe está aqui à frente!”
Balbuciei um pedido de desculpas, peguei nos
meus papéis e no saco do peixe e saí. Antes de fechar a
porta, vi o que o banco ficara molhado, o que me deixou intrigado…
Quando cheguei ao jipe certo, o Comandante
perguntou-me se eu sabia de quem era o jipe em que tinha entrado momentos
antes. Quando respondi que não, disse-me, com um sorriso, que era do Chefe de Estado-Maior das
Forças Armadas da Guiné-Bissau. Fiquei sem fala!
Depois de chegar ao apartamento, percebi porque
é que o banco do jipe VIP tinha ficado molhado. O saco do peixe estava húmido…
Abraço.
António
Sem comentários:
Enviar um comentário