05/10/16

Voluntário na Guiné-Bissau 14: A distração-mor...

Embaixada de Portugal e o Instituto Camões.


Sou irremediavelmente distraído, o que pode ser problemático…
Último dia do curso em Bissau. O Comandante Madureira apareceu com o Lona (Tenente do exército guineense) na sala, mesmo quando a aula estava a terminar. Vinha à procura da minha colega Edite, que estava fora da cidade, e ofereceu-me boleia para o Bairro da Cooperação Portuguesa (onde eu estava alojado). Arrumei os papéis, peguei no saco de peixe fumado que uma aluna (a Mariama) me ofereceu e encaminhei-me para a saída, parando aqui e ali para corresponder aos cumprimentos que ia recebendo. Chegado à porta, encaminhei-me, quase sem olhar, para o jipe que ali estava estacionado. Pareceu-me que a pintura estava mais escura e achei o fecho da porta mais estreito. Mas nada me deteve. Abri a porta e entrei para o banco de trás. No interior, estavam dois jovens militares que nunca tinha visto. O primeiro sorriu e ajudou-me a pôr os papéis no banco. O outro parecia ter um ponto de interrogação em cada olho. “Olá, tudo bem?”, disse eu. “Onde está o Comandante Madureira?”, acrescentei. Ficaram a olhar para mim sem responder. “Mas este não é o jipe do Comandante?”, perguntei, desconcertado. Tinham acabado de acenar negativamente, quando ouvi o Lona gritar do lado de fora: “Professor, o nosso jipe está aqui à frente!”
Balbuciei um pedido de desculpas, peguei nos meus papéis e no saco do peixe e saí. Antes de fechar a porta, vi o que o banco ficara molhado, o que me deixou intrigado…
Quando cheguei ao jipe certo, o Comandante perguntou-me se eu sabia de quem era o jipe em que tinha entrado momentos antes. Quando respondi que não, disse-me, com um sorriso, que era do Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Fiquei sem fala!
Depois de chegar ao apartamento, percebi porque é que o banco do jipe VIP tinha ficado molhado. O saco do peixe estava húmido…

Abraço.
António

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