Uma verdadeira catedral!
No artigo dedicado aos provérbios em crioulo,
referi que um dos mais conhecidos tem origem nas bagabagas (é mesmo assim o
plural): “Baga-baga ka ta kata iagu, ma
i ta masa lama.” (A bagabaga não tem água, mas amassa o barro.)
A bagabaga é uma formiga-branca da família das
térmites que marca a paisagem da Guiné-Bissau com as suas catedrais de barro
cor de tijolo que podem atingir vários metros de altura. Veem-se sobretudo
quando se sai de Bissau, mas também existem na capital e tentam “montar a
tenda” nos locais mais improváveis.
Na floresta, entre as culturas do amendoim e do caju.
Nas imediações das palhotas.
Em Bissau, no interior do quartel da cooperação militar portuguesa!
As construções da bagabaga resistem ao vento, à
chuva torrencial, a tudo!
Disseram-me que quando ferram as mandíbulas,
fazem-no com tanta convicção, que não largam mais. Se forem puxadas, partem-se
e a cabeça fica cravada na carne.
Contaram-se ainda que, durante a guerra colonial,
eram utilizadas como abrigo. Como os projéteis não conseguiam trespassá-las,
eram um colete antibala ecológico…
Nas deligências feitas para confirmar estas
histórias, encontrei informações interessantes que as sustentam.
1. Veja esta passagem que
encontrei num blogue de um antigo combatente português:
“Fiquei cosido ao chão com o Peixoto encostado a mim e o Lourenço
atingido do outro lado, apesar do risco o Ferreira de Carvalho, “o comprido”ou
Vila de Rei foi lá e ajudou-me a levar o
Peixoto para trás do baga-baga, onde foi assistido pelo maqueiro Carvalho,
vi que tinha um pequeno orifício de entrada que quase não sangrou, sempre
pensei que se safava, na altura muito embora tivesse um curso de primeiros
socorros com a duração de uma semana, não tinha tempo nem os conhecimentos que
tenho hoje para avaliar da gravidade de um ferimento, estava entregue aos
cuidados do enfermeiro, eu naquele momento estava preocupado em sair daquela
enrascada.”
Do mesmo blogue, esta foto:
2. “Aconteceu então, numa
operação de golpe-de-mão à casa-de-mato inimiga de Biambe, o meu primeiro
encontro com estas “más companhias” e quando já tinha algumas semanas de Guiné
e de mato.
Dá-se uma emboscada aquando do regresso, o que já se contava e como
era habitual, e então valha-nos, mais uma vez, um baga-baga.
“Entretido” aos tiros, só depois me apercebi das alfinetadas que
estava a levar nas mãos e braços, e já pelas pernas acima.”Mas o que é isto?”
Qual é a minha surpresa, vejo umas formigas avermelhadas a ferrarem-me por todo
o lado.
Comecei a sacudi-las sem por a cabeça fora do baga-baga, isto é
fora de uma eventual boa pontaria inimiga. À sacudidela elas não saíam e então,
verifiquei, para desespero meu, que elas estavam encastradas na minha carne.
Com o empenho que elas actuavam parecia que até faziam o pino. Só puxando-as é
que elas saíam, sem que no entanto a cabeça deixasse de ficar agarrada através
de uns tentáculos enterrados. Lembrei-me das abelhas - nas abelhas o abdómen
fica ligado ao ferrão - nestas ficam, não um ferrão, mas umas pinças (ou
cornos) com a cabeça agarrada.
Os baga-bagas eram os nossos abrigos predilectos. Ainda bem que
existiam. Parecia que tinham sido feitos para aquele tipo de guerra – a guerra
de guerrilha. Altos, espessos quanto baste, duros como cimento, e a espaços
mais ou menos regulares. Em qualquer operação no mato, principalmente em zona
laranjo/vermelha, era constante um olhar prévio em redor para ver onde havia um
baga-baga que nos acudisse.
Havia zonas em que existiam mais, julgo que em terrenos mais secos.
Nas bolanhas não havia. Certamente que a água das chuvas e das marés que as
inundavam, não propiciavam tais obras de engenharia. (…)
3. “Uma termiteira pode atingir vários metros de altura. É uma
construção feita de madeira, terra, excrementos e saliva, que as próprias
térmitas mastigam formando a argamassa com que estas tenazes e temidas formigas
constroem estes verdadeiros castelos no ar, prolongando-se no subsolo por
numerosas galerias. São tão fortes que dificilmente são destruídos mesmo com a
ajuda de explosivos.”
4. No reino das bagabagas, há uma rainha, mas
também um rei!
In http://adbissau.adbissau.org/wp-content/uploads/2011/08/AD_Pub_Periodico_Partilha_009.pdf
Abraço!
ProfAP
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