26/10/16

Voluntário na Guiné 24: no reino da bagabaga!

Uma verdadeira catedral!

No artigo dedicado aos provérbios em crioulo, referi que um dos mais conhecidos tem origem nas bagabagas (é mesmo assim o plural): “Baga-baga ka ta kata iagu, ma i ta masa lama.” (A bagabaga não tem água, mas amassa o barro.)
A bagabaga é uma formiga-branca da família das térmites que marca a paisagem da Guiné-Bissau com as suas catedrais de barro cor de tijolo que podem atingir vários metros de altura. Veem-se sobretudo quando se sai de Bissau, mas também existem na capital e tentam “montar a tenda” nos locais mais improváveis.
Na floresta, entre as culturas do amendoim e do caju.

Nas imediações das palhotas.

Em Bissau, no interior do quartel da cooperação militar portuguesa!

As construções da bagabaga resistem ao vento, à chuva torrencial, a tudo!
Disseram-me que quando ferram as mandíbulas, fazem-no com tanta convicção, que não largam mais. Se forem puxadas, partem-se e a cabeça fica cravada na carne.
Contaram-se ainda que, durante a guerra colonial, eram utilizadas como abrigo. Como os projéteis não conseguiam trespassá-las, eram um colete antibala ecológico…
Nas deligências feitas para confirmar estas histórias, encontrei informações interessantes que as sustentam.
1. Veja esta passagem que encontrei num blogue de um antigo combatente português:
Fiquei cosido ao chão com o Peixoto encostado a mim e o Lourenço atingido do outro lado, apesar do risco o Ferreira de Carvalho, “o comprido”ou Vila de Rei foi lá e ajudou-me a levar o Peixoto para trás do baga-baga, onde foi assistido pelo maqueiro Carvalho, vi que tinha um pequeno orifício de entrada que quase não sangrou, sempre pensei que se safava, na altura muito embora tivesse um curso de primeiros socorros com a duração de uma semana, não tinha tempo nem os conhecimentos que tenho hoje para avaliar da gravidade de um ferimento, estava entregue aos cuidados do enfermeiro, eu naquele momento estava preocupado em sair daquela enrascada.
Do mesmo blogue, esta foto:

2. Aconteceu então, numa operação de golpe-de-mão à casa-de-mato inimiga de Biambe, o meu primeiro encontro com estas “más companhias” e quando já tinha algumas semanas de Guiné e de mato.
Dá-se uma emboscada aquando do regresso, o que já se contava e como era habitual, e então valha-nos, mais uma vez, um baga-baga.
“Entretido” aos tiros, só depois me apercebi das alfinetadas que estava a levar nas mãos e braços, e já pelas pernas acima.”Mas o que é isto?” Qual é a minha surpresa, vejo umas formigas avermelhadas a ferrarem-me por todo o lado.
Comecei a sacudi-las sem por a cabeça fora do baga-baga, isto é fora de uma eventual boa pontaria inimiga. À sacudidela elas não saíam e então, verifiquei, para desespero meu, que elas estavam encastradas na minha carne. Com o empenho que elas actuavam parecia que até faziam o pino. Só puxando-as é que elas saíam, sem que no entanto a cabeça deixasse de ficar agarrada através de uns tentáculos enterrados. Lembrei-me das abelhas - nas abelhas o abdómen fica ligado ao ferrão - nestas ficam, não um ferrão, mas umas pinças (ou cornos) com a cabeça agarrada.
Os baga-bagas eram os nossos abrigos predilectos. Ainda bem que existiam. Parecia que tinham sido feitos para aquele tipo de guerra – a guerra de guerrilha. Altos, espessos quanto baste, duros como cimento, e a espaços mais ou menos regulares. Em qualquer operação no mato, principalmente em zona laranjo/vermelha, era constante um olhar prévio em redor para ver onde havia um baga-baga que nos acudisse.
Havia zonas em que existiam mais, julgo que em terrenos mais secos. Nas bolanhas não havia. Certamente que a água das chuvas e das marés que as inundavam, não propiciavam tais obras de engenharia. (…)

3.Uma termiteira pode atingir vários metros de altura. É uma construção feita de madeira, terra, excrementos e saliva, que as próprias térmitas mastigam formando a argamassa com que estas tenazes e temidas formigas constroem estes verdadeiros castelos no ar, prolongando-se no subsolo por numerosas galerias. São tão fortes que dificilmente são destruídos mesmo com a ajuda de explosivos.

4. No reino das bagabagas, há uma rainha, mas também um rei!
In http://adbissau.adbissau.org/wp-content/uploads/2011/08/AD_Pub_Periodico_Partilha_009.pdf

Abraço!
ProfAP

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