Espetacular termiteira de bagabaga!
Como em todas as línguas, os muitos
provérbios do crioulo guineense (não conhecia nenhum!) são um manancial de
ideias sábias tecido na dureza da vida quotidiana.
O primeiro que descobri foi
este:
1. Baga-baga ka ta kata iagu,
ma i ta masa lama. = A bagabaga não tem água, mas amassa o barro.
É muito usado na educação das
crianças, passando-lhes a mensagem de que o importante é “desenrascar-se” com
engenho mesmo quando as condições da vida são adversas.
A bagabaga é uma térmite,
cujas construções (feitas de substâncias lenhosas e barro e que muitas vezes ultrapassam os dois metros de altura)
fazem parte da paisagem. Quando se sai Bissau, é impossível não as ver, “plantadas” entre os cajueiros e
as mangueiras. Um destes dias, vou dedicar-lhe um artigo, incluindo uma
história que me contaram.
Embora, 70% do seu léxico
tenham influência do português, o crioulo guineense (com muito em comum com o crioulo de Cabo Verde) não é uma espécie de "português mal falado" como
muitos pensam. Tem regras próprias e raízes nas línguas indígenas. Por exemplo, bagabaga, grafia
adaptada ao português, vem do crioulo baga-baga, formado a partir do
bambara baga e do mandinga baaba.
Muito interessante também é a sua sonoridade, agradável ao ouvido, resultado sobretudo do jogo entre
os sons “i” e “á”. Experimente ler em voz alta os provérbios 15 e 18. Lê-se como
se escreve (não há acentos no crioulo).
2. Bardadi i suma malgeta: i ta iardi.
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A verdade é como a malagueta: arde.
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3. Bariga ka fila ku arus, ki-fadi miju.
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Barriga que não se dá bem com arroz, muito menos se
dará bem com milho.
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4. Bianda sabi ka ta tarda na kabas.
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Comida saborosa não demora muito na panela.
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5. Bibus na cora, ki-fadi mortus.
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Se os vivos choram, que dizer dos mortos.
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6. Boka ficadu ka ta ientra moska.
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Em boca fechada não entram moscas.
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7. Deus sibi ke k' manda iagu di mar salga.
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Deus sabe porque a água do mar é salgada.
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8. Dinti mora ku lingu, ma i ta daju i murdil.
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Os dentes moram com a língua, mas às vezes mordem-na.
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9. Dus galu ka ta kanta na un kapuera.
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Dois galos não cantam no mesmo poleiro.
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10. E fila suma gatu ku kacur.
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Dão-se como o cão e o gato.
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11. Falta di mame, bu ta mama dona.
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Na falta de mãe, mama-se na avó.
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12. Forsa di pis, iagu.
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A força do peixe é a água.
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13. Garandis kuma kanua sin remu ka ta kanba mar.
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Os anciãos dizem que canoa sem remo não atravessa o mar.
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14. Gatu fartu ka ta montia.
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Gato de barriga cheia não caça.
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15. I ka ten sabi ku ka ta kaba.
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Não há bem que nunca acabe.
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16. I sancu di dus matu.
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É macaco de dois matos.
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17. Kabra nunka i ka ta misa dianti di lubu.
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A cabra nunca mija perto da hiena.
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18. Kacur ka ta tene kacur.
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O cão não tem cão.
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19. Ami i rasa papaia: N ka ta durmi na bariga di algin.
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Sou como o mamão: não fico parado na barriga de ninguém.
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2o. Garandi i polon, ma mancadu ta durbal.
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O poilão é grande, mas o machado derruba-o.
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Para ilustrar o provérbio 20., eis um imponente poilão fotogrado em Farim.
Abrasu e não esqueça de que “pekadur dalgadu i ta dana
moransa” (quem tem mau feitio estraga toda a comunidade).
António
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