A Rosário a pôr a mesa. Mal sabia ela o que estava para vir...
Era sábado e fomos até Farim, no Norte, na direção da fronteira com o Senegal.
Como os francos CFA (uma espécie de euro partilhado por alguns países africanos) já não abundavam e
tinham de ser aplicados prioritariamente para encher o depósito de gasóleo (na
Guiné, mais caro do que a gasolina), levámos as vitualhas para um piquenique.
Próximo de Farim, já no regresso,
instalámo-nos debaixo de uma mangueira nas imediações de uma tabanca (aldeia).
Tudo correu bem: sem chuva, uma bela salada,
conservas, azeitonas (um luxo!). Tudo regado com uma infusão fresca de ondjo
(flor seca, da família do hibisco, rica em ferro e vitamina C) e com muuuita
animação.
Antes de seguirmos viagem até uma bomba da
GALP para um cafezinho (muito bom!), a Rosário teve uma vontade imperiosa de
fazer um chichizinho. Depois de conferenciar com a Edite e analisarem os prós e
os contras dos sítios possíveis (que, literalmente neste caso, a necessidade
aguça o engenho), lá escolheram uma pequena clareira na vegetação, perto da
mangueira que nos deu abrigo, junto à estrada.
Enquanto eu vigiava o lado esquerdo da estrada,
a Edite controlava o lado direito e ia cantarolando num perfeito crioulo europeu: “Ka passa, ka passa.” (Não passa, não passa.)
Eis senão quando, vejo vir de dentro da floresta,
por um pequeno carreiro, um jovem guineense, a pedalar vigorosamente na sua
bicicleta. Em que direção? Adivinharam! Na rota da enfermeira Rosário, coitadinha, de
calças na mão, desprotegida e prestes a ter um encontro imediato do lado que
menos esperava.
Só tive tempo de dizer, alto e bom som, respondendo à
lengalenga da Edite, “Ai, passa, passa!”.
Ato contínuo, ouve-se um grito-lamento: “Epá,
não me digas que vem aí alguém..” Confirmei-lhe a suspeita com um “Vem do lado
do mato!”
A poucos metros do espaço central da ação (a
tal clareira “escondida”), depois de ter visto não sabemos o quê, o jovem parou a
bicicleta e virou a cara para o lado oposto e ficou ali, imóvel, enquanto a
infeliz Rosário se (re)compunha.
O jovem, retomou a marcha e, ao passar por
nós, deu-nos um sonoro bom-dia.
Já dentro do carro, com a Edite a pôr o pé no
acelerador, a Rosário recuperou a fala: “Epá, agora é que me está a dar os
calores!”
Abraço.
António
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